(in http://pt.wikipedia.org/wiki/Adrenalina) |
Mariana e Cecília
excerto de Sophie Kinsella in "Louca Por Compras"
Rebecca Bloomwood é uma jovem viciada em compras, que está enterrada em dívidas e decide mudar de hábitos e controlar os seus gastos, mas não é fácil, e por vezes mete os pés pelas mãos (quase sempre). Podemos dizer que a adrenalina que sente a fazer compras ultrapassa em grande escala a sensatez e a força de vontade para mudar.
Frugalidade. Simplicidade. Estas são as minhas palavras de ordem. Uma vida nova, sem desordem, estilo Zen, em que não gasto nada. Não gasto nada. Quando se pensa nisto, perguntamo-nos quanto dinheiro desperdiçamos todos os dias? Não admira que tenha uma dividazinha considerável. E, no entanto, não é culpa minha. Limitei-me a sucumbir ao materialismo ocidental – e para lhe resistir é necessário ter a força de um elefante. Pelo menos é o que diz no meu novo livro.
Cecília e Mariana
É que quando fui ontem com a minha mãe ao Waterstone's para comprar as revistas semanais dela, comprei o livro mais maravilhoso que jamais li. Muito honestamente, sei que vai mudar a minha vida. Trago-o comigo, na mala. Chama-se Controlar o seu dinheiro, é de David E. Barton e é fantástico. O que ele diz é que todos podemos andar a deitar dinheiro pela janela e nem nos apercebemos e que a maior parte das pessoas poderia reduzir as despesas a metade, numa semana.
Numa semana!
… … … … … …
Mais adiante, temos Rebecca no Museu Victória & Albert, onde já estava a ficar aborrecida, até que…
Ó meu Deus, eu tinha razão! É uma loja! Há uma loja, mesmo na minha frente!
Subitamente os meus passos tornam-se leves; como por milagre, a energia regressou. Seguindo o tilintar da caixa registadora, apresso-me a chegar à entrada da loja e paro, dizendo a mim própria que não devo ter demasiadas esperanças, que não devo ficar desapontada se só encontrar marcadores para livros e toalhas de chá.
Mas não é nada disso. É mesmo fantástico! Porque é que este lugar não é mais conhecido? Há uma enorme variedade de fabulosas jóias, e montes de livros de arte extremamente interessantes, e toda a fantástica cerâmica, e cartões de felicitações, e…
Oh. Mas hoje eu não deveria comprar nada, não é verdade? Raios.
Isto é terrível. Para que é que serve descobrir uma loja nova e não poder comprar nada? Não é justo. Toda a gente está a comprar coisas, toda a gente se está a divertir. Durante uns momentos fico desconsolada, ao lado de uma exposição de canecas, a ver uma australiana que compra pilhas de livros sobre escultura. Está a conversar com a empregada e de repente ouço qualquer coisa sobre o Natal. E então tenho um golpe de puro génio.
Compras de Natal! Posso fazer todas as minhas compras de Natal aqui! Sei que ainda estamos em Março e que é um bocado cedo – mas porque não havemos de ser organizados? E quando chegar o Natal, não tenho de me meter naquelas horríveis multidões. Nem acredito que nunca tenha pensado nisto antes. E nem sequer estou a quebrar as regras – porque alguma vez vou ter de comprar as prendas de Natal, ou não será? A única coisa que estou a fazer é a deslocar o processo de compra para um pouco mais cedo. Faz todo o sentido.
Helena P. com a ajuda do António S.
de Eugénio de Andrade
Helena P. e António Soares |
Muito haveria a dizer do confronto da mão com o sol. Da semente com a terra. Há contudo um lugar onde a paixão se esconde para explodir: o olhar.
Os sulcos, que ninguém diria de aves. A mão prestes a germinar iluminada pela lâmpada da sombra. Obstinada, na sua aliança com a própria substância do desejo.
Chegam aos pares, húmidas, jovens, de vidro quase. Vêm de outro verão, de outra garganta. Por onde entraram? Respiro-as, lentas, apaziguado. Essas vogais altas, estas vogais brancas.
Os cavalos. Escarvam o chão, impacientes. Procuram as águas do sol. Nos meus olhos.
A luz fascina, chego ao fim de rastos.
António S.
de Vanessa Gonçalves Vieira no seu blog Pensamentos valem mais que ouro
António Soares |
Fernando
Poema anónimo encontrado na parede de um dos dormitórios de crianças do campo de extermínio de Auschwitz
Amanhã fico triste… amanhã!
Hoje não… Hoje fico alegre!
E todos os dias, por mais amargos que sejam, eu digo:
Amanhã fico triste, hoje não…
Paulo M.
de Ian McEwan um excerto de "A criança no tempo"
Paulo Machado |
Mila
de Chico Buarque, "A Banda"
Mila |
Vasco
Vasco |
de um piloto alemão que não se quis identificar, no blog "ecos da 2ª guerra"
Ana Valente
de João Aguiar um excerto de "O Canto dos Fantasmas"
Ana Valente |
Rosa
de Alice Vieira, um excerto de "Flor de Mel"
Rosa |
André
de Luisa Ducla Soares
Chuva
Cai a chuva, ploc, ploc
corre a chuva ploc, ploc
como um cavalo a galope.
Enche a rua, plás, plás
esconde a lua, plás, plás
e leva as folhas atrás
Risca os vidros, truz, truz
molha os gatos, truz, truz
e até apaga a luz.
Parte as flores, plim, plim
maça a gente plim, plim
parece não ter mais fim
Carmen
de Edgar Semedo
Os vícios
Se tiverem curiosidade, espreitem a entrevista que a Carmen fez ao Edgar para a Palavra Fiandeira.
Aqui ficam também os endereços dos blogues de poesia da Carmen:
Natividade e Nazaré
leram ADRENALINA de sua autoria
(Texto inventado na hora para ser lido a duas)
Maria Natividade e Maria Nazaré |
ALINA – (muito eufórica ) Bom dia! Bom dia! Bom dia!
NERDA – Oláá….oohhhh (abre a boca cheia de sono)
ALINA – Estás com sono a esta hora?
NERDA – (espreguiça-se ) Ainda nem acordei….
ALINA – Que horror! Desde as 6h da manhã que não paro. E o meu Fred está habituado a correr logo pela manhã.
NERDA- Que pachorra! Se eu tinha paciência para andar a correr atrás dum cão!
ALINA – Claro, o teu gato está sempre deitado à janela, e tu na cama!
NERDA – É o melhor que se leva nesta vida….! (espreguiça-se)
ALINA – Que desperdício! Dormir tanto para quê?
NERDA - …(continua a espreguiçar-se) É tão bom o descanso, não fazer nada, não pensar em nada…nada…
ALINA – Vamos Nerda, acorda, agora vamos as duas fazer um programa num parque.
NERDA – Ok. Isso é relaxante, um parque…um banco de jardim…fechar os olhos e ouvir os passarinhos… E podemos passar lá o dia?
ALINA – Claro! Mas não vamos para nenhum jardim, vamos fazer um programa radical, 2 dias de adrenalina total.
NERDA – Adrenalina total ????
ALINA – Vais adorar, vamos fazer escalada, rappel, rafting e canoagem, paintball, …, vão ser múltiplas actividades, e para acabar em beleza podemos experimentar uma corrida de karting……
NERDA – Pááára! Já chega , estás maluca, alguma vez eu ía fazer essas maluqueiras? Explica-me o que é isso de paintball e rafting?
ALINA - O Paintball é um jogo cheio de energia, a alta velocidade, com a adrenalina à flor da pele. Além de ser divertido, é também óptimo para aliviar o stress de uma semana de trabalho. Acaba por ser uma versão sofisticada dos “polícias e ladrões”ou “cowboy's e índios”. Joga-se com um grupo, dividido em 2 equipas e o objectivo é capturar uma bandeira da equipa adversária, ao mesmo tempo que se protege a nossa, ou então eliminar por completo os jogadores adversários. Durante este processo, tenta-se afastar os adversários do jogo disparando com ar comprimido pequenas bolas de gelatina cheias de tinta.
Mas excitante, acelerado, emocionante e por vezes até relaxante... o Rafting é tudo isto e muito mais. Pode ir desde uma aventura desafiadora a uma viagem calma de barco, que permite apreciar um cenário espectacular. Basta uma única viagem e estás pronta para ficares viciada. Os nossos rios são recheados de beleza e aventura óptimos para o gosto por actividades ao ar livre.
NERDA – Estás muito bem informada, mas não me convences. Isso é tudo muito perigoso. E a escalada é muito cansativa - eu prefiro ficar a descansar.
ALINA - O objectivo da escalada é o de conseguir ascender por superfícies quase verticais, em gelo, rocha ou paredes artificiais construídas propositadamente para esta prática desportiva. Exige, sim muito esforço, concentração, capacidade de resistência, grande controlo mental e corporal. As vias de escalada são normalmente curtas, ascendendo no máximo a algumas centenas de metros.
E para nos divertirmos, no último dia vamos enfrentar o desafio de vencer as curvas duma pista de karting.
NERDA – És muito engraçada, achas por acaso que eu vou entrar nesse desafio? Nem penses! Eu prefiro continuar os desafios com o meu gato. E afinal já sei muito bem o que é adrenalina: é estar em casa e sentir aquele calor, aquele frio todo a subir por mim acima sempre que ele salta da janela para o sofá e se agarra com as suas unhas aos cortinados da sala. Aí sim, de em três meses tenho que comprar cortinados novos, um corropio de loja em loja, achas que isso não é adrenalina total?
Ana Paula
de Margaret Mazzantini um excerto de "Não te movas"
Deste livro foi feito um filme (o trailer pode ser visto aqui)
Ana Paula |
Alexandra F.
de Fina Casalderrey, il. de Teresa Lima "Felix, o coleccionador de medos"
Alexandra F. |
João
de Sid Watkins, um excerto de "viver nos limites"
o excerto relata, do ponto de vista do cirurgião, a morte em pista de Gilles Villeneuve em 1982.
Vitória
de Raúl Brandão, um excerto de "As ilhas desconhecidas"
Mais dois passos e chegamos ao vértice em que se descobrem de repente as Sete Cidades escondidas entre montes. É o ponto mais alto da Cumieira: tenho os lagos a meus pés, e, se me volto, o amplo panorama que abrange grande parte da ilha, mar, céu e costa, luz e irrealidade.
O mar, em toda a amplidão, forma um plano em ângulo agudo com. o plano verde da terra – e parece que vai desabar sobre ela. Na minha frente entreabre-se um abismo que nos atira para fora da vida, para regiões inesperadas de sonho. A convulsão, a brutalidade e o fogo levantaram até ao céu grandes paredes vulcânicas, dispondo no fundo do caos alguns campinhos meigos e dois lagos, um inteiramente verde, outro inteiramente azul, separados por um fio de terra e quietos, adormecidos, cismáticos. As forças desencadeadas chegaram a este resultado: – um pouco de azul, um pouco de verde, ternura e idílio... Paredes cortadas a pique, carregadas de árvores, que se despenham de cima até abaixo, acabam na água ou em pequenas chás de milho, que a luz das ilhas envolve duma frialdade casta e imóvel...
Um ah de assombro, um sentimento novo, um vago sentimento de surpresa... Pela primeira vez na minha vida não sei descrever o que vejo e o que sinto. Conheço os lagos voluptuosos de Itália e os lagos adormecidos da Escócia: o lago das Sete Cidades não se parece com nenhum que tenha visto. Existe ou sonhei esta água parada, esta grande cova selvática empoada de roxo, com aquela serenidade a ferros lá no fundo? Esta beleza estranha que não nos larga e nos contempla ao mesmo passo que a contemplamos?
O carácter da paisagem é delicado e oculto. Embora a gente veja o campanário e as casas minúsculas no fundo da enorme cratera, duvida, e chega a supor que a vara dum mágico fez parar o tempo, e aquilo se conserva encantado entre montes desmedidos e brutos que o guardam prisioneiro. O tempo passa, os homens passam; só ali tudo está suspenso, na atitude fixa no momento do prodígio. Na solidão mágica não se ouve cantar um pássaro, a água não bole, as flores não bolem. Tudo se mostra na amplidão da cratera aberta para o céu e num grande silêncio estarrecido. Tão pouca tinta! Um quadro feito de emoção; um quadro em que o verde não chega a ser verde, em que o azul é névoa, e um sopro o pó roxo suspenso no ar, puro hálito da paisagem arfando. Três riscos muito leves para fixar o encanto, como se fosse possível, só com sentimento e quase nada de cor, fazer uma obra-prima. Reparo que há efectivamente uns carreiros perdidos por entre os montes para descer lá abaixo. Mas eu não me atrevo! tenho medo de que ao aproximar-me a visão se desvaneça no ar!
in http://www.visitazores.com/ |
Helena R. e Xana J.
de Alexandre O'Neill
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
[meeeeeeeeeeeeedo]
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
Helena R. e Alexandra J.
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
[medo medo medo medo medo]
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo [tudo]
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
sim
a ratos
Virgínia
de Álvaro de Campos, um excerto da "Ode Triunfal"
e
de Filippo Tommaso Marinetti , um excerto do "Manifesto Futurista"
Virgínia |
Ana França
de sua autoria
Papoila
Aroma - Viços
Se uma papoila dançasse para mim,
foto de Henrique Santos que inspirou o texto de Ana França
seria tango.
Movimento para além dos nomes,
passos
com o poder de quedas de água,
abraço
mais envolvente que pele,
pés
em desenho quente pelo chão fora.
E o corpo dança,
leve e sedutor,
como o ar e o fogo
rodando e atravessando a música,
papoilas vermelhas de emoção
e o tango,
e os passos,
o abraço
Ana França
em dança leve de chama...
A labareda de dançar
porque não se pode parar.
Como papoilas
no campo
a voltear.
a Cristina Paiva
falou-nos um pouco da relação entre "A adrenalina e a leitura"
Cristina Paiva |
Entre quem lê em voz alta e quem ouve ler:
os processos onde a adrenalina intervém e as técnicas para a usar a nosso favor.
Breve passagem pelos fenómenos físicos e psicológicos resultantes da libertação da hormona;
técnicas usadas pelos oradores desde a antiguidade clássica até hoje, passando pelos pregadores religiosos (leitura de um excerto do sermão de Santo António aos peixes de Padre António Vieira);
técnicas usadas pelos actores introduzidas por Konstantin Stanislavski com menção ao seu livro A preparação do actor (a edição mais antiga é da Ed. Arcádia, já muito velhinha e parece que agora só há esta versão em português do Brasil) e à difusão internacional das suas teorias pela criação do Actors Studio de Lee Strasberg em New York (leitura de um excerto de Tabacaria de Álvaro de Campos);
Brecht e o seu teatro de consciência social com uma exigência de distanciamento do actor e do público em relação às suas emoções (leitura do poema Sente-se de Bertolt Brecht);
protesto contra “os golpes baixos” ou “técnicas” usados por artistas para gerar mais adrenalina nos espectadores, como lágrimas forçadas, enganos propositados e risos aparentemente descontrolados.
Obrigada a quem tão prontamente faz este registo, é uma forma interessante de revisitar cada sessão, de a partilhar com amigos e de a divulgar! Estou a saborear cada sessão! Despeço-me de todos até à próxima, no dia 21... Boas leituras para todos! Ana França
ResponderEliminarOlá Ana
ResponderEliminarEu também acho impressionante o trabalho que a Lena Ramos e o Fernando fazem com este blog, não só pela quantidade mas também pela qualidade.
Até 21
Beijos
Cristina Paiva
olha agora... ! isso é para me porem para aqui toda emocionada, é? vá! ainda bem que gostam! fico muito contente... também é feito com muito gosto!
ResponderEliminarmas que fique bem claro que nada disto seria possível sem todos os que fazem parte do clube! são vocês que fazem com que isto seja tão bom! deste lado apenas "gravamos" o momento!...