O antigo Clube de Leitura em Voz Alta deu lugar ao Coro de Leitura em Voz Alta. Tem normalmente um periodicidade quinzenal e acontece na Biblioteca de Alcochete.

Os objectivos continuam a ser os mesmos; promover o prazer da leitura partilhada; a forma passou a ser outra.

2011.11.29 - Banana

Cristina
A banana de Scliar in Revista Ler n.º 78
José Mario Silva (o Bibliotecário de Babel)


No início do século XX, um rapazinho russo foge, com a família, da revolução bolchevique e chega a Porto Alegre (Rio Grande do Sul), no porão de um navio de carga. Durante a viagem de cinco semanas através do Atlântico, o futuro imigrante passou fome. Está muito frágil, esquelético, subnutrido. No cais, ao ver o seu estado, um gaúcho hospitaleiro oferece-lhe uma banana. O miúdo compreende que se trata de uma coisa de comer, embora não saiba como. Português não fala, por isso mexe no fruto esquisito, experimenta-o. «Até descobrir que a banana se descasca. Ele sabia que a laranja se descascava, porque na Rússia, nos dias de festa, costumava haver uma laranja para distribuir pela família inteira (um gomo para cada um). E ele sabia que a laranja tinha casca e caroços. Ao descascar a banana, apareceu uma coisa que ele julgou ser o caroço da banana. Deitou fora esse caroço e, para surpresa do gaúcho, comeu a casca de banana até ao fim.» Muitos anos mais tarde, o escritor brasileiro Moacyr Scliar, seu filho, que é quem fala dentro destas aspas, haveria de pegar na história e contá-la «mais de mil vezes». A última foi no encontro Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, e o desenlace voltou a despertar gargalhadas e aplausos na plateia: «Meu pai morreu com mais de 80 anos e nunca deixou de me dizer: “sabe, filho, casca de banana não é tão ruim assim como a gente pensa.”»

Paula S.
Tô só in Correio Popular de Campinas (SP)
Hilda Hilst


uma leitura alternativa com acento do Brasil

Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá

de teta
de azul
de berimbau
de doutora em letras?

E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...
Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?
nave
ave
moinho
e tudo mais serei
para que seja leve
meu passo
em vosso caminho.*

Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha. (*Trovas de muito amor para um amado senhor - SP: Anhambi, 1959)

Paulo M.
Contra-a-mão in Correio da Manhã (Rio, 26-8-1938)
Gondim da Fonseca


Eu tropecei agora numa casca de banana.
Numa casca de banana!
Numa casca de banana eu tropecei agora,
Caí para trás desamparadamente,
E rasguei os fundilhos das calças!
Numa casca de banana eu tropecei agora.
Numa casca de banana!
Eu tropecei agora numa casca de banana!

como os mais atentos terão reparado, este poema foi escrito em crítica ao nosso conhecido No meio do caminho. Um pouco mais desta história, que merece ser conhecida, aqui.


António Gil

Um dia perfeito para o peixe banana
J.D. Salinger



Olhou para o mar. “Sybil,” disse, “vou-te dizer o que é que vamos fazer. Vamos ver se conseguimos apanhar um peixe banana.”
“Um quê?”
“Um peixe banana,” disse, desatando o cinto e tirando o roupão. ... Baixou-se, apanhou a bóia e colocou-a debaixo do braço direito. Depois, com a mão esquerda, agarrou a mão de Sybil, e começaram a andar em direcção ao mar.
“Imagino que já deves ter visto muitos peixes banana,” disse o jovem. Sybil abanou com a cabeça. “Não viste? Mas onde é que tu vives?” “Não sei,” disse Sybil.
“Sabes, sim. Tens que saber. A Sharon Lipschutz sabe onde vive e só tem três anos e meio.”
Sybil parou de andar e largou a mão dele. Apanhou uma concha e olhou-a com uma atenção estudada. Depois deitou-a fora. “Whirly Wood, Connecticut,” disse, e recomeçou a andar, com o corpo arqueado e o estômago saliente.
“Whirly Wood, Connecticut,” disse o jovem.

Avançaram até a água chegar à cintura de Sybil. Então o jovem pegou nela e deitou-a com o estômago sobre a bóia.
“Não me largue,” sentenciou Sybil. “Segure-me, agora.”
“Menina Carpenter, por favor, eu conheço o meu ofício,” disse o jovem. “Tens que manter os olhos abertos para ver se descobres algum peixe banana. Este é um dia perfeito para os peixes banana.”
“Não vejo nenhum,” disse Sybil.
“É natural. Eles têm hábitos muito especiais. Muito especiais.” Continuou a empurrar a bóia. A água ainda não lhe tinha chegado ao peito.
“Têm uma vida muito trágica,” disse. “Sabes o que é que eles fazem, Sybil?”
Ela abanou a cabeça.
“Bem, eles nadam para um buraco onde há imensas bananas. Parecem peixes absolutamente vulgares quando nadam para dentro do buraco. Mas uma vez lá dentro, portam-se como autênticos porcos. Conheci alguns peixes banana que nadaram para o buraco e comeram setenta e oito bananas.”
Empurrou um pouco mais a bóia e a sua passageira em direcção ao horizonte.
“Claro que depois disso ficam tão gordos que não conseguem voltar a sair do buraco. Não cabem na porta.”
“Não empurre para muito longe,” disse Sybil. “O que é que lhes acontece?”
“O que é que acontece a quem?”
“Aos peixes banana.”
“O que é que acontece depois de os peixes comerem tantas bananas que não conseguem sair do buraco das bananas?”
“Sim,” disse Sybil.
“Bem, lamento dizer-te, Sybil. Morrem.”
“Porquê?” perguntou Sybil.
“Bem, apanham a febre da banana. É uma doença terrível.”
“Vem aí uma onda,” disse Sybil, com medo.
“Aquela ondazita? Vais ver que nem damos por ela,” disse o jovem. Pegou nos tornozelos de Sybil e empurrou-os para baixo e para a frente. A bóia flutuou na crista da onda. A água ensopou o cabelo loiro de Sybil, mas o grito que soltou era de prazer.
Com a mão, já de novo em cima da bóia, retirou uma madeixa de cabelo da frente dos olhos, e gritou, “Acabei de ver um.”
“Viste o quê, querida?”
“Um peixe banana.”
“Meu Deus, não me digas!” disse o jovem. “E ele tinha bananas na boca?”
“Sim,” disse Sybil. “Seis.”

O texto integral pode ser lido aqui.

Virginia e Paulo



"mas o tema são as bananas!!!"

Mila
Jogos Frutais (excerto) in Morte e Vida Severina
João Cabral de Melo Neto


De fruta é tua textura
e assim concreta;
textura densa que a luz
não atravessa.
Sem transparência:
não de água clara, porém
de mel, intensa.

Intensa é tua textura
porém não cega;
sim de coisa que tem luz
própria, interna.
E tens idêntica
carnação de mel de cana
e luz morena.

Luminosos cristais
possuis internos
iguais aos do ar que o verão
usa em setembro.
E há em tua pele
o sol das frutas que o verão
traz no Nordeste.

a versão integral pode ser consultada aqui.

Vasco e Xana F.
Stand up bananas
baseado em conto tradicional e adaptação de texto de autor não identificado


(stand up bananas em modo sit down)

Então que dizes deste tema?
Nem a propósito. A vivermos nesta república das bananas, não podia ser mais apropriado.
Percebo-te. Isto é um país de bananas governado por sacanas.
Desde que não viremos “bananas suicidas”.
“Bananas suicidas”?
Sabes distinguir uma "banana suicida" das outras?
Não. Como?
A "banana suicida" é aquela que grita: Macacos me mordam!
Já reparaste que há várias histórias sobre fruta mas que sobre bananas só encontras anedotas?
Pudera! É a fruta predilecta dos macacos... o Alberto João passa a vida a promovê-la. Quem a pode levar a sério!?
Lembras-te da historia da velhinha que se escondia numa cabacinha para fugir aos lobos? Imagina se a velhinha se escondesse numa banana para fugir a macacos!
Seria muito boa. Repara! Tu fazes de velhinha que eu faço de macaco...

Era uma vez uma velhota, que morava numa casinha à beira da selva. Quando queria visitar os netos, que moravam longe, tinha de dar uma grande volta, para não atravessar a selva, onde havia muitos macacos. Mas um dia em que a velhota foi ver os netos, resolveu ir pela selva por ser mais perto. No caminho encontrou um macaco que lhe disse:
- Onde vais, velha?
- Vou ver os meus netinhos.
- Não vais, não, que eu como-te!


A velha pediu ao macaco que não a comesse ainda, porque estava muito magrinha. E dizia mais:
- Os meus netos tratam-me sempre muito bem, eu engordo e, depois, à volta, tu comes-me. E trago-te também arroz-doce para a sobremesa.

Então o macaco deixou-a ir. Mais adiante, encontrou outro macaco a quem contou a mesma história. E o macaco deixou-a ir. Assim, a velhota chegou a casa dos netos, que a receberam e trataram muito bem. Quando lhe apeteceu voltar para casa, os netos não a queriam deixar voltar pelo caminho da selva, por causa dos macacos. Mas ela, que era uma velha corajosa, teimou que ia, mas dentro de uma “banana” grande para se proteger. Deram-lhe a “banana”, ela enfiou-se lá dentro e toca a andar que se faz tarde... Um dos macacos , quando viu a “banana” perguntou-lhe:
- Ó “banana”, viste por aí uma velha?
A velha dentro da “banana”, disfarçou a voz e cantou assim:

- Não vi velha nem velhinha,
Não vi velha nem velhão.
Corre, corre, “bananinha”
Corre, corre “bananão”.

E pôs-se a correr. Mais adiante, encontrou outro macaco que também lhe perguntou:
- Ó “banana”, viste por aí uma velha?
E a velha enquanto corria, respondia:

- Não vi velha nem velhinha
Não vi velha nem velhão.
Corre, corre, “bananinha”
Corre, corre “bananão”.

Assim chegou a casa sem que nenhum mal lhe acontecesse...
Ou não! O fim não é este!
Então?
A velha escorregou na banana e morreu.

Como estamos a falar de fruta,... lembras-te de na última sessão eu ter lido sobre Adão e Eva?
Sim!
Até agora não consigo perceber porque é que depois de tanto aviso a Eva insistiu em comer a maçã!
Coisa de mulheres!
Explica!
No início, a Eva não queria comer a fruta. Mas a serpente, astuta, disse: 
- Come e serás como os anjos!
A Eva, virando a cara para o lado, respondeu:
- Não!
- Terás o conhecimento do Bem e do Mal - insistiu a víbora.
A Eva cruzou os braços, olhou bem na cara da serpente e respondeu firme: 
- Não!
Então a serpente retrucou: 
- Serás imortal.
- Não! Já disse!
Essa fulana era mesmo teimosa!
- Serás como Deus!
- NÃO e NÃO! Já disse que NÃO!
Irritadíssima, quase enfiando a fruta pela goela de Eva abaixo, a serpente já estava desesperada e não sabia mais o que fazer para que aquela mulher, de princípios tão rígidos e personalidade tão forte comesse a fruta. Até que teve uma ideia! Já que nenhum dos argumentos havia funcionado... ofereceu novamente a fruta e disse com um sorrisinho maroto:
- Come, tonta!!! EMAGRECE!!!!
Foi tiro e queda!!!!

Helena R.
Natureza morta com frutos in Com o sol em cada sílaba
Eugénio de Andrade

(apresentado em casca de banana)

1.
O sangue matinal das framboesas
escolhe a brancura do linho para amar.

2.
A manhã cheia de brilhos e doçura
debruça o rosto puro na maçã.

3.
Na laranja o sol e a lua
dormem de mãos dadas.

4.
Cada bago de uva sabe de cor
o nome dos dias todos do verão.

5.
Nas romãs eu amo
o repouso no coração do lume.

Helena P.
Cem anos de solidão (excerto)
Gabriel García Márquez

Macondo, o nome da povoação fictícia em que decorre a maior parte da acção, significa banana em língua Bantu

António
A Banana in Novos Contos do Gin Tónico
Mário Henrique-Leiria

já estava no nosso blog, portanto é só dar um saltinho até às construções!

Vitória, Xana J. e João
Salada de frutas (excertos de vários autores, com taça e idas à feira para experiências místicas)


Ana Maria T.
Bananas de Hospital in Já cá não está quem falou (mas encontrado aqui)
Alexandre O'Neill

De há muitos anos que o comércio ambulante vegeta, não
prospera, em torno dos hospitais. Sua base é a banana. Quem tem
doente, alimenta-o, mas poupa-lhe o dente. Banana é substancial,
embora digam que é quente. Banana é prática, apodrece devagar e,
mesmo macerada, come-se bem. Até há quem a prefira já muito
passada.
Banana é gentileza de pobre. Seu preço, ainda assim, é
acessível. E não se diz que uma banana vale um bife? Depois, não
precisa de garfo, de faca, não deixa nódoa, come-se em duas
trincadelas. Gengivas já muito recolhidas papam-na facilmente.
Banana pode ser subtraída, num ápice, à vigilância
dietética de clínicos e enfermeiros. Cabe num chinelo, não faz
grande enchumaço no bolso de um pijama. O que é preciso é a
gente lembrar-se de que tem banana escondida e não a esborrachar
com o pé ou com uma volta de corpo desastrada. Em caso de grande
aflição pode passar-se a banana ao vizinho. Ora! Nem tantos
cuidados serão precisos. Banana é geralmente tolerada. É dedo
gordo, mão de gordo, vagarosa e cordial. Faz lembrar piloca! Se
faz, então a enfermeira troca chalaças e ri sofridamente.

Delfina
Frutos proibidos (e três receitas com banana) in Afrodite
Isabel Allende


... e algumas adivinhas com bananas

Teresa

o que é verde por fora e amarelo por dentro?

resposta: ouıdǝd ǝp ɐpɐɹɐɔsɐɯ ɐuɐuɐq ɐɯn


Novo contratempo impediu as Anas de estarem presentes.
Aqui fica a contribuição da


Ana França
Banana... começa por B, então pensei no
Baile do bê-a-bá in Cantigas e cantigos (Terramar)
José Fanha

Baila tudo minha gente
no baile do Bê-á-bá
com bengala ou sem bengala
só não baila quem não está.

Bailam bichos barrigudos
burriés e babuínos
baila a burra mais o burro
baila o Jacaré Balbino.

Baila a saia na bainha
baila a pulga na balança
baila a bola na baliza
baila Braga e mais Bragança.

Baila tudo minha gente
no baile do Bê-á-bá
com bengala ou sem bengala
só não baila quem não está.

Baila o bife com batatas
Baila a brasa na braseira
Baila o banco na bancada
E o banhista na banheira

Baila a barba do barbudo
e o bigode do bichano
baila a bruxa e mais o bruxo
Dona Bela e Dom Beltrano

Baila tudo minha gente
no baile do Bê-á-bá
com bengala ou sem bengala
só não baila quem não está.

E agora remato eu:

Com tanto baile bailado
e tanto para bailar
fica a barriga a dar horas
e as pernas a bambear

Agarro já numa cana
ou descanso no baloiço
e já nem a música oiço
a comer uma banana.

Ficaram de fora...
Esta semana houve várias propostas que ficaram pelo caminho. Aqui deixamos algumas...

uma versão do bê-á-bá
ba-na-ná | be-ne-né ná né | bi-ni-ni ná né ni | bó-nó-nó ná né ni nó | bu-nu-nu ná né ni nó nu

o livro com cheiro a banana de Alice Vieira


o diário de um banana de Jeff Kinney





E para terminar...
música com banana ou inspirada em banana

Carmen Miranda
(do filme Banana da Terra, 1939)




Gilberto Gil
(para a série O Sítio do pica-pau amarelo)



the Muppets
(Yes, we have no bananas... ou assim... ou...)


(Smic du grubleaa bananna, da scuska bananna du smick!)

1 comentário:

  1. fico contente porque o mais óbvio ficou de fora dos que ficaram de fora :))

    ResponderEliminar