na sessão de hoje começámos por alguns exercícios relacionados com a imagem
de seguida a Cristina leu um pouco de "A leitura em voz alta" de Georges Jean |
o Fernando trouxe de Manuel Jorge Marmelo "Uma mentira mil vezes repetida" |
e entrámos nas leituras subordinadas ao tema da sessão:
a Teresa e a Maria João leram |
"Quando eu nasci" de Sebastião da Gama
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais…
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém…
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos da minha Mãe…
de Serra-Mãe
e "Dia de anos do Pedro" de Maria Rosa Colaço
No ano em que eu nasci
tanta coisa aconteceu!
Caiu chuva, houve sol
e muito pão se comeu.
No ano em que eu nasci,
já outros corriam mundo,,
já outros estavam em guerra,
já barcos iam ao fundo.
No ano em que eu nasci
a vida, tal como hoje,
é uma luz, é um vento
que passa por nós e foge.
Nesse dia tão distante,
descobri que é bom viver.
Hei-de fazer dos meus dias
Todos, dias de nascer!
No ano em que eu nasci
não tinha medo de nada:
o colo da minha Mãe
era o ninho, era a estrada!
Mas no ano em que eu nasci
o melhor que aconteceu
fui eu! Fui eu! Fui eu
Fui eu!
de Versos Diversos para Meninos Travessos
o Tomás leu um excerto de "Apaixone-se pela vida" de Rogério Stankewski e a Maria Teresa leu de Alberto Caeiro |
Pouco a pouco o campo se alarga e se doura.
A manhã extravia-se pelos irregulares da planície.
Sou alheio ao espectáculo que vejo: vejo-o.
É exterior a mim. Nenhum sentimento me liga a ele,
E é esse sentimento que me liga à manhã que aparece.
de Poemas Inconjuntos
a Zenaida e a Paula leram um excerto de "A casa do incesto" de Anaïs Nin |
a Maria e a Alexandra leram um excerto de "Pássaros feridos" de Colleen McCullough |
as Gabrielas leram o conto "O último voo do tucano" de Mia Couto de "Contos do nascer da terra" |
o Luís leu de um excerto de "Rosa, minha irmã Rosa" de Alice Vieira |
o Renato leu um excerto de "Eu, Cláudio" de Robert Graves |
a Ana, a Ilda e a Margarida leram um excerto de "O estranho caso de Benjamin Button" de F. Scott Fitzgerald |
a Teresa e o Bruno leram de Álvaro de Campos |
Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o eco... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
de Poesia de Álvaro de Campos
a Ana e a Luísa leram dois poemas (Era uma vez e Xarope) de "Histórias com Juízo" de Mário Castrim |
o Fernando e a Cristina também foram aos "Contos do nascer da terra" de Mia Couto e leram |
Era uma vez uma menina que pediu ao pai que fosse apanhar a lua para ela. O pai meteu-se num barco e remou para longe. Quando chegou à dobra do horizonte pôs-se em bicos de sonhos para alcançar as alturas. Segurou o astro com as duas mãos, com mil cuidados. O planeta era leve como uma baloa.
Quando ele puxou para arrancar aquele fruto do céu se escutou um rebentamundo. A lua se cintilhaçou em mil estrelinhações. O mar se encrispou, o barco se afundou, engolido num abismo. A praia se cobriu de prata, flocos de luar cobriram o areal. A menina se pôs a andar ao contrário de todas as direcções, para lá e para além, recolhendo os pedaços lunares. Olhou o horizonte e chamou:
- Pai!
Então, se abriu uma fenda funda, a ferida de nascença da própria terra. Dos lábios dessa cicatriz se derramava sangue. A água sangrava? O sangue se aguava? E foi assim. Essa foi uma vez.
e não poderíamos terminar sem paparocas, desta vez foram "Broinhas de batata" |
Broinhas de batata
4 ovos
1/2 kg de batatas (cozidas com sal)
300 gr. de açúcar
500 gr. de farinha
Sumo de uma laranja ou limão
Canela ou erva doce
Fruta seca q.b.
Ovos+açúcar+batatas+farinha+sumo+canela+frutos secos
Formar bolinhas com a massa, levar ao forno num tabuleiro com papel vegetal, et voilà!
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