Teresa e Carmen
10 graus de enjoo in Expedição à ilha borboleta
de Geronimo Stilton
Carmen
para a leitura alternativa trouxe um texto de sua autoria
Primeiro…
… Um coração apressado. Ritmo inconstante, acelerado.
A seguir…
Um corpo tenso, os membros rijos, frios.
Pasmam de tanta sudação.
A voz quer sair… ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Mas, o timbre desmaia,
Se altera,
Deforma,
Engrossa
Ou acelera… acelera, acelera, acelera…
Caminho…
Deixo de caminhar; as pernas tremem, se contraem, deixam de funcionar.
E o cérebro? Parou… abrandou… congelou.
A informação não passa, não pensa, não nada!
Assim estou…
Presa a esta cadeira por um mísero fio de linha.
(Carmen Ezequiel)
Cheguei finalmente ao nada. E na minha satisfação de ter alcançado em mim o mínimo de existência, apenas a necessária respiração – então estou livre.
Só me resta reinventar! (anónimo) ... E, ainda assim poder dizer…
Todas as misérias verdadeiras são interiores e causadas por nós mesmos. Erradamente julgamos que elas vêm de fora, mas nós é que as formamos. (Jacques Anatole France, poeta e romancista francês)
O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo. (Clarice Lispector)
Só me interessam os passos que tive de dar na vida para chegar a mim mesmo. (Herman Hesse)
O nirvana está em nós. O que mata é a culpa, a raiva, o maldito superego. (Léa Waider)
O ser, o ter e o fazer são como triângulo, no qual cada lado serve de apoio para os demais. Não há conflitos entre eles. (Shakti Gawain)
António Gil
As ruas de Los Angeles (adaptação) in Amar, Sonhar, Viver
de Garry Zukav
Uma amiga minha falou-me certa vez sobre o medo que tinha das ruas de Los Angeles depois de ter assistido aos relatos de violência que ocorriam na zona sul da cidade.
É necessária mais polícia - defendia ela - e mais procuradores da República. O grande problema - acrescentou com autoridade - é a falta de disciplina parental, o excesso de drogas ilegais e a decadência moral. Precisamos de autoridade firme nesta matéria - concluiu - para que as nossas ruas voltem novamente a ser seguras.
Várias noites mais tarde, ela sonhou com o seu primeiro romance de adolescente. Sentia-se atraída por um jovem, chamado Thom e este sentia por ela um afecto recíproco, o que deu origem a um romance inocente entre ambos. Repentinamente, e sem qualquer motivo aparente, Thom tornou-se distante. A sua frieza foi crescendo até que, por fim, quando se cruzavam no corredor ele nem sequer olhava para ela.
No início ela sentiu-se destroçada. Depois ficou furiosa. Olhava para Thom com fúria quando o via. Os seus pensamentos encheram-se de fantasias de vingança. Desejava que ele sofresse tanto como ela. Quanto mais ela sofria, mais frequentes e violentas se tornavam as suas fantasias.
Anos mais tarde, depois de ambos terem saído do liceu, Thom ganhou coragem para lhe dizer que tinha ficado assustado com a atracção que sentia por ela. Quanto mais forte era a atracção, mais assustado ele ficava, o que o fez construir um muro entre ambos.
Nesse momento, ela sentiu-se humilhada pelos pensamentos de raiva e pelas fantasias violentas que tivera. Apercebeu-se de que, mentalmente, acusara Thom de traição e tentara castigá-lo. O sonho trouxe tudo isto de volta.
- Porque é que tive este sonho agora? - perguntou-se a si mesma. A resposta provocou nela o mesmo impacto que o sonho. Apercebi-me - confessou - de que há uma relação muito próxima, e que eu nunca reparei, entre o que sucede na minha mente e o que acontece na minha vida. Sempre julguei a violência nas ruas como se esta não tivesse nada que ver comigo. Agora acho que tem. Eu cometo a mesma violência! Durante todos estes anos, Thom não andava a salvo nas ruas da minha mente.
As ruas da sua mente e as ruas de Los Angeles tinham deixado de ser diferentes para ela. Ela via a violência de uma - as ruas de Los Angeles - como o reflexo da violência da outra - as ruas da sua mente.
Se tentarmos não julgar os outros com dureza talvez assim consigamos iniciar um processo para reduzirmos a insegurança e criar um mundo sem violência, ou no mínimo, com menos violência.
Até lá estaremos a contribuir para a violência no mundo e não para a reduzir.
António Soares
Agradecimento à corja
de Joaquim Pessoa
Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade de vivermos
felizes e em paz.
Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar de como é possível
viver sem vergonha, sem respeito e sem dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar as coisas por que lutámos e às
quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer, o que
nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.
Fernando, Xana J., João, Lena R.
4 de Julho de 1965 in Poesia Reunida
de Manuel António Pina
segundo fontes geralmente bem
os altos interesses nacionais
foi recebido carinhosamen-
pretende para fins matrimoniais
entre os países membros da otan
as suas provas de doutoramento
sua excelência o presidente da
a conferência do desarmamento
excelentíssimo senhor director
ardilosos amigos do alheio
nosso prezado colaborador
atrasos na entrega do correio
não perca esta excelente ocasião
da santa madre igreja faleceu
resposta em carta à administração
de casa de seus pais desapareceu
Helena P.
Fundo do mar
de Sophia de Mello Breyner
No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.
Claro que esta leitura levou direitinho para aqui
Vitória
Excerto de A Manhã do Mundo
de Pedro Guilherme-Moreira
Mark foi das histórias e das pessoas mais exploradas do 11 de Setembro. E foi-o porque esteve várias vezes para não ser, ou seja, teve várias inflexões no seu percurso que lhe podiam ter salvo a vida. Sabê-lo dói a qualquer pessoa decente.
(…)
Mark começou por dizer à mulher, quando o despertador tocou às sete da manhã:
- Acho que tenho febre.
Praguejou, disse que não se sentia com coragem para ir trabalhar e esperou apoio. Ela gemeu, mudou de posição, veio à tona dos lençóis e perguntou:
- Vais deixar o novo cozinheiro ter um dia inteiro a sós com o Chef?
Mark rebolou na cama e voltou a praguejar. Conferiu a primeira luz do dia.
- Então vou, mas vou mais tarde. Telefono e digo para contarem comigo só às dez.
- Essas duas horas devem chegar ao rookie para ele definir o menu do dia.
É Nova Iorque e está tudo dito. Mark nem sequer nota que ao seu lado está a mulher, que não passa de mais uma pessoa que o empurra para o caldeirão da competição. Ao dia. À hora. Ao minuto. Ele próprio é um competidor compulsivo. Sem olhar a meios. Recém – casados, nem Mark nem a mulher sabem ainda o que é ou pode ser o casulo protector de um companheiro. Mesmo que a vida lhes corra sem tumultos, vão demorar anos a perceber que o essencial não está no caldeirão, mas na cápsula do lar, num invólucro que exclui os egos dos outros. Os egos dos outros que devoram os nossos.
(…)
Mark vai num passo estugado pelos passeios de Nova Iorque. Se estivermos atentos, perceberemos uma certa assimetria nas suas passadas e tenderemos a pensar que se deve a alguma deficiência física. Não deve. Em Mark essa é a única forma de detectar um fino, contudo muito comprido, sofrimento interior, que não transparece no olhar, mas no andar.
(…)
Mark recompõe-se sempre que passa no gigantesco átrio, agora com o andar simétrico e majestoso, agora um homem de sucesso com ar confiante e determinado, que, como tantos infelizes, consegue encher-se de coragem e ostentar a falsa aparência de domínio do mundo.
Paulo Machado
O ter e o dar
de Jorge de Sena
Não me peças, ó vida, o que não dás
(...)
Vasco
O grande ditador (discurso final)
Charles Chaplin
Mila
excerto de Mineiros de Aljustrel - nas barrenas da memória
de António Lains Galamba, il. Chichorro
edição do autor; para adquirir contactar o próprio por e-mail |
Rosa
excerto de A Esperança dos Vivos
de Millen Brand
Delfina
Ângela e o menino Jesus
de Frank McCourt, il. Loren Long
Pode ser lido aqui.
Virgínia
Os bárbaros
Paulo
Quadras
de António Aleixo
João
Inventário
de Miguel Torga
Cristina
Uma pequenina luz bruxuleante
de Jorge de Sena
Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumiére
just a little light
una piccola…em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a advinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
Indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
Como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
No meio de nós.
Brilha.
No youtube encontra-se uma entrevista a Jorge de Sena em várias partes em que se pode ouvir o autor a ler alguns dos seus poemas (1, 2, 3, 4, 5)
Cristina
Especialmente para os convidados,
Quadras de António Aleixo
Quadras de Agostinho da Silva
e pela primeira vez, a seguir às leituras houve bolinhos
Quero agradecer, aqui, a todos os meus colegas/amigos do CLEVA. Foram fantásticos ao aceitarem um a um o que vos pedi sem imporem condições ou exigirem explicações, desconhecendo o que vos apresentaria. Quanto a mim, é a verdadeira prova de que a amizade sobrepõe-se à insegurança. Termino o ano de 2011 com satisfação e orgulho, pois "cresci" convosco ao longo destes últimos oito meses. Viva o CLEVA!
ResponderEliminarUm grande abraço para todos,
Vasco
A sessão foi boa como sempre, mas já fizemos e podemos fazer ainda melhor.
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