O antigo Clube de Leitura em Voz Alta deu lugar ao Coro de Leitura em Voz Alta. Tem normalmente um periodicidade quinzenal e acontece na Biblioteca de Alcochete.

Os objectivos continuam a ser os mesmos; promover o prazer da leitura partilhada; a forma passou a ser outra.

28 setembro 2010 - AS FLORES





Leituras:

Mariana:

A Flor - Almada Negreiros

Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor!
As pessoas não acham parecidas esta linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

in A invenção do dia claro


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Isabel:
Se às vezes digo que as flores sorriem... - Alberto Caeiro


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Helena Ramos:
Já calma nos deixou - Luís de Camões


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Alexandra Ferreira
A Flor - Gallimard Jeunesse, Claude Delafosse, René Mettler


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Helena Policarpo:
Excerto de "Este é o teu reino" de Abilio Estévez


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Fernando:
Excerto do conto

Íris - Hermann Hesse

Na primavera da sua infância, Anselmo andava pelo jardim verdejante. Entre as flores de sua mãe, havia uma que especialmente o atraía, o lírio. Ele colava a bochecha ao verde- -claro das folhas altas, apertava entre os dedos as suas negras pontas aguçadas, para senti-las, aspirava o perfume da grande e encantadora corola e olhava demoradamente no seu interior. Ali, havia longas filas de dedos amarelos erguendo-se de um fundo azul desmaiado e, por entre eles, corria um caminho claro para trás e para o fundo, penetrando pelo cálice e o mistério azul da flor adentro. Gostava muito delas e olhava longamente aquele interior, e os membros amarelo-delgados pareciam-lhe já uma sebe doirada em redor do jardim de um rei, já uma dupla fileira de belas árvores de sonho que nenhum vento agita, e por entre elas, claro e percorrido por vidrinas artérias vitais, seguia o misterioso caminho para o seu interior. Monstruosamente, a abóbada distendia-se para trás, o caminho perdia-se por entre as árvores doiradas, infinitamente, para o fundo da incomensurável garganta, e por sobre ele, régia e abobadando-se, a curvatura violeta depositava ténues sombras mágicas sobre o silente milagre que permanecia aguardando. Anselmo sabia que era ali a boca da flor, que por detrás das fulgurantes excrescências amarelas, na garganta azul, moravam o coração dela e os seus pensamentos, e que era por sobre aquele gracioso e claro caminho de vítreas artérias que a respiração e os seus sonhos entravam e saíam. (...)

in Contos Maravilhosos


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Cecília:
Rosa sem espinhos - Almeida Garrett



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Paula:
A Flor e o Colibri - José Jorge Letria


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Mila:
De tarde - Cesário Verde


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Patrícia:
Excerto de: Viagem sem regresso - Katy Gardner


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Cristina:
Poema das Flores - António Gedeão

Se com flores se fizeram revoluções
que linda revolução daria este canteiro!

Quando o clarim do sol toca a matinas
ei-las que emergem do nocturno sono
e as brandas, tenras hastes se perfilam.
Estão fardadas de verde clorofila,
botões vermelhos, faixas amarelas,
penachos brancos que se balanceiam
em mesuras que a aragem determina.
É do regulamento ser viçoso
quando a seiva crepita nas nervuras
e frenética ascende aos altos vértices.

São flores e, como flores, abrem corolas
na memória dos homens.

Recorda o homem que no berço adormecia,
epiderme de flor num sorriso de flor,
e que entre flores correu quando era infante,
ébrio de cheiros,
abrindo os olhos grandes como flores.
Depois, a flor que ela prendeu entre os cabelos,
rede de borboletas, armadilha de unguentos,
o amor à flor dos lábios,
o amor dos lábios desdobrado em flor,
a flor na emboscada, comprometida e ingénua,
colaborante e alheia,
a flor no seu canteiro à espera que a exaltem,
que em respeito a violem
e em sagrado a venerem.

Flores estupefacientes, droga dos olhos, vício dos sentidos.

Ai flores, ai flores das verdes hastes!
A César o que é de César. Às flores o que é das flores.


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Cristina:
O quê? Valho Mais que uma Flor - Alberto Caeiro

O quê? Valho mais que uma flor
Porque ela não sabe que tem cor e eu sei,
Porque ela não sabe que tem perfume e eu sei,
Porque ela não tem consciência de mim e eu tenho consciência dela?
Mas o que tem uma coisa com a outra
Para que seja superior ou inferior a ela?
Sim tenho consciência da planta e ela não a tem de mim.
Mas se a forma da consciência é ter consciência, que há nisso?
A planta, se falasse, podia dizer-me: E o teu perfume?
Podia dizer-me: Tu tens consciência porque ter consciência é uma qualidade humana
E só não tenho uma porque sou flor senão seria homem.
Tenho perfume e tu não tens, porque sou flor...

Mas para que me comparo com uma flor, se eu sou eu
E a flor é a flor?

Ah, não comparemos coisa nenhuma, olhemos.
Deixemos análises, metáforas, símiles.
Comparar uma coisa com outra é esquecer essa coisa.
Nenhuma coisa lembra outra se repararmos para ela.
Cada coisa só lembra o que é
E só é o que nada mais é.
Separa-a de todas as outras o facto de que é ela.
(Tudo é nada sem outra coisa que não é).

in Poemas Inconjuntos



1 comentário:

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