Leituras:
Mila
Excerto do conto "A casa do mar" de Sophia de Mello Breyner Andresen do livro "Histórias da terra e do mar"
Mariana
Da "Mensagem" de Fernando Pessoa,
Mar Portuguez
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Helena Policarpo, Isabel, João, Ana Rita, Cecília |
Teresa Pedrosa
Excerto de "O velho e o mar" de Ernest Hemingway
Helena Ramos, Teresa Pedrosa |
Helena Ramos
Estrela do mar de Jorge Palma
a Isabel
leu-nos poema feito "a meias" com a sua irmã
também a Ana Rita
nos leu um poema da sua autoria; "Pescador"
Virgínia (para levantar a moral)
Da "Mensagem" de Fernando Pessoa,
O Infante
Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagroute, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
e ainda:
de Fernanda de Castro, com uma belíssima introdução de David Mourão-Ferreira
Não fora o mar
Não fora o mar,
e eu seria feliz na minha rua,
neste primeiro andar da minha casa
a ver, de dia, o sol, de noite a lua,
calada, quieta, sem um golpe de asa.
Não fora o mar,
e seriam contados os meus passos,
tantos para viver, para morrer,
tantos os movimentos dos meus braços,
pequena angústia, pequeno prazer.
Não fora o mar,
e os seus sonhos seriam sem violência
como irisadas bolas de sabão,
efémero cristal, branca aparência,
e o resto — pingos de água em minha mão.
Não fora o mar,
e este cruel desejo de aventura
seria vaga música ao sol pôr
nem sequer brasa viva, queimadura,
pouco mais que o perfume duma flor.
Não fora o mar
e o longo apelo, o canto da sereia,
apenas ilusão, miragem,
breve canção, passo breve na areia,
desejo balbuciante de viagem.
Não fora o mar
e, resignada, em vez de olhar os astros
tudo o que é alto, inacessível, fundo,
cimos, castelos, torres, nuvens, mastros,
iria de olhos baixos pelo mundo.
Não fora o mar
e o meu canto seria flor e mel,
asa de borboleta, rouxinol,
e não rude halali, garra cruel,
Águia Real que desafia o sol.
Não fora o mar
e este potro selvagem, sem arção,
crinas ao vento, com arreio,
meu altivo, indomável coração,
Não fora o mar
e comeria à mão,
não fora o mar
e aceitaria o freio.
Fernando
Excerto de Moby Dick de Herman Melville
Há alguns anos (...) achando-me com pouco ou nenhum dinheiro na carteira, e sem qualquer interesse particular que me prendesse à terra firme, apeteceu-me voltar a navegar e tornar a ver o mundo das águas. É uma maneira que eu tenho de afugentar o tédio e de normalizar a circulação. Sempre que sinto um sabor a fel na boca; sempre que a minha alma se transforma num Novembro brumoso e húmido; sempre que dou por mim a parar diante de agências funerárias e a marchar na esteira dos funerais que cruzam o meu caminho – percebo que chegou a altura de voltar para o mar, tão cedo quanto possível. É uma forma de fugir ao suicídio. (...)E não há nisto nada de extraordinário. Embora inconscientemente, quase todos o homens sentem, numa altura ou noutra da vida, a mesma atracção pelo oceano.(...) Observem a multidão que se junta para contemplar as águas. Postados como sentinelas em toda a periferia da cidade, milhares e milhares de pessoas contemplam, hipnotizadas, o oceano. (...)É (...) gente ligada à terra, gente que passa os dias da semana entre quatro paredes de cal e gesso – amarrada aos escritórios, colada aos bancos, debruçada sobre as escrivaninhas. Então porque se encontra ali? Que força os arrasta para aquele lugar?
Helena Policarpo
Índia de Margarida Pedrosa do livro "Tantas Mãos, a mesma Primavera"
Paulo
A Vida
Na água do rio que procura o mar;
No mar sem fim; na luz que nos encanta;
Na montanha que aos ares se levanta;
No céu sem raias que deslumbra o olhar;
No astro maior, na mais humilde planta;
Na voz do vento, no clarão solar;
No inseto vil, no tronco secular,
— A vida universal palpita e canta!
Vive até, no seu sono, a pedra bruta...
Tudo vive! E, alta noite, na mudez
De tudo, – essa harmonia que se escuta
Correndo os ares, na amplidão perdida,
Essa música doce, é a voz, talvez,
Da alma de tudo, celebrando a Vida!
Cecília
de Dulce Pontes
Garça perdida
Anoiteceu
no meu olhar de feiticeira,
de estrela do mar, de céu, de lua cheia,
de garça perdida na areia.
Anoiteceu no meu olhar,
perdi as penas, não posso voar,
deixei filhos e ninhos,
cuidados, carinhos, no mar...
Só sei voar dentro de mim
neste sonho de abraçar
o céu sem fim, o mar, a terra inteira!
E trago o mar dentro de mim,
com o céu vivo a sonhar e vou sonhar até ao fim,
até não mais acordar...
Então, voltarei a cruzar este céu e este mar,
voarei, voarei sem parar à volta da terra inteira!
Ninhos faria de lua cheia e depois,
dormiria na areia...
no meu olhar de feiticeira,
de estrela do mar, de céu, de lua cheia,
de garça perdida na areia.
Anoiteceu no meu olhar,
perdi as penas, não posso voar,
deixei filhos e ninhos,
cuidados, carinhos, no mar...
Só sei voar dentro de mim
neste sonho de abraçar
o céu sem fim, o mar, a terra inteira!
E trago o mar dentro de mim,
com o céu vivo a sonhar e vou sonhar até ao fim,
até não mais acordar...
Então, voltarei a cruzar este céu e este mar,
voarei, voarei sem parar à volta da terra inteira!
Ninhos faria de lua cheia e depois,
dormiria na areia...
o João
falou-nos da grande barreira de coral
do livro 100 maravilhas do mundo
Augusto |
o Augusto
leu-nos "A Portuguesa" de Henrique Lopes de Mendonça
António
e ainda da "Mensagem" de Fernando Pessoa,
Prece
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem --ou desgraça ou ânsia--
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância --
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
Cristina
Outro testamento de Vitorino Nemésio
pode ler-se e ouvir-se aqui
e de António Nobre
Vou sobre o oceano
Vou sobre o oceano (o luar, de doce, enleva!)
Por este mar de glória, em plena paz.
Terras da Pátria somem-se na treva
Águas de Portugal ficam, atrás.
Onde vou eu? Meu fado onde me leva?
António, onde vais tu, doido rapaz?
Não sei. Mas o vapor, quando se eleva,
Lembra o meu coração, na ânsia em que jaz.
Ó Lusitânia que te vais à vela!
Adeus! que eu parto (rezarei por ela)
Na minha Nau Catarineta, adeus!
Paquete, meu paquete, anda ligeiro,
Sobe depressa à gávea, marinheiro,
E grita, França! pelo amor de Deus!
E aqui vai a minha escolha de leitura:
ResponderEliminar"A Vida" de Olavo Bilac
Na água do rio que procura o mar;
No mar sem fim; na luz que nos encanta;
Na montanha que aos ares se levanta;
No céu sem raias que deslumbra o olhar;
No astro maior, na mais humilde planta;
Na voz do vento, no clarão solar;
No inseto vil, no tronco secular,
— A vida universal palpita e canta!
Vive até, no seu sono, a pedra bruta...
Tudo vive! E, alta noite, na mudez
De tudo, – essa harmonia que se escuta
Correndo os ares, na amplidão perdida,
Essa música doce, é a voz, talvez,
Da alma de tudo, celebrando a Vida!
Obrigado, inseri este texto no post.
ResponderEliminarf