Helena Policarpo
de Gonçalo M. Tavares, Uma viagem à Índia (excertos... com papeleira)
Teresa
de Jorge Sousa Braga, As Trepadeiras in Herbário
(ao sinal, metade da sala diz "trepem", a outra metade "trepadeiras")
Trepem, trepem trepadeiras!
Trepem, trepem pelo ar!
Que de plantas rasteiras
está a terra a abarrotar.
Trepem, trepem trepadeiras!
Trepem, trepem sem parar!
E se o muro se acabar
trepem, trepem trepadeiras,
por um raio de luar.
Vasco e João
de Shakespeare, Shall I compare thee to a summer's day?
tradução de Vasco Graça Moura [*verificar se é o soneto XVII ou o XVIII]
Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance, or nature's changing course, untrimm'd;
But thy eternal summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou owest;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou growest;
So long as men can breathe, or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee.
Para saber um pouco mais sobre a história dos sonetos podem ir até aqui
Vitória
de Eugénio de Andrade, Primeiramente in Palavras Interditas
Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus.
E é assim que a noite chega, e dentro dela te procuro, encostado ao teu nome, pelas ruas álgidas onde tu não passas, a solidão aberta nos dedos como um cravo.
Meu amor, amor duma breve madrugada de bandeiras, arranco a tua boca da minha e desfolho-a lentamente, até que outra boca - e sempre a tua boca - comece de novo a nascer na minha boca.
Que posso eu fazer senão escutar o coração inseguro dos pássaros, encostar a face ao rosto lunar dos bêbedos e perguntar o que aconteceu.
Ana T.
de Paulo Roberto Gaefke, Recomeçar
Não importa onde você parou…
em que momento da vida você cansou…
o que importa é que sempre é possível e
necessário “Recomeçar”.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo…
é renovar as esperanças na vida e o mais importante…
acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período?
foi aprendizado…
Chorou muito?
foi limpeza da alma…
Ficou com raiva das pessoas?
foi para perdoá-las um dia…
Sentiu-se só por diversas vezes?
é porque fechaste a porta até para os anjos…
Acreditou que tudo estava perdido?
era o início da tua melhora…
Pois é…agora é hora de reiniciar…de pensar na luz…
de encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Que tal
Um corte de cabelo arrojado…diferente?
Um novo curso…ou aquele velho desejo de aprender a
pintar…desenhar…dominar o computador…
ou qualquer outra coisa…
Olha quanto desafio…quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te
esperando.
Tá se sentindo sozinho?
besteira…tem tanta gente que você afastou com o
seu “período de isolamento”…
tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu
para “chegar” perto de você.
Quando nos trancamos na tristeza…
nem nós mesmos nos suportamos…
ficamos horríveis…
o mal humor vai comendo nosso fígado…
até a boca fica amarga.
Recomeçar…hoje é um bom dia para começar novos
desafios.
Onde você quer chegar? ir alto…sonhe alto… queira o
melhor do melhor… queira coisas boas para a vida… pensando assim
trazemos prá nós aquilo que desejamos… se pensamos pequeno…
coisas pequenas teremos…
já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente
lutarmos pelo melhor…
o melhor vai se instalar na nossa vida.
E é hoje o dia da faxina mental…
joga fora tudo que te prende ao passado… ao mundinho
de coisas tristes…
fotos…peças de roupa, papel de bala…ingressos de
cinema, bilhetes de viagens… e toda aquela tranqueira que guardamos
quando nos julgamos apaixonados… jogue tudo fora… mas principalmente… esvazie seu coração… fique pronto para a vida… para um novo amor… Lembre-se somos apaixonáveis… somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes… afinal de contas… Nós somos o “Amor”…
” Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do
tamanho da minha altura.”
António
de João de Deus, O Avarento in Campo de Flores
Puxando um avarento de um pataco
Para pagar a tampa de um buraco
Que tinha já nas abas do casaco,
Levanta os olhos, vê o céu opaco,
Revira-os fulo e dá com um macaco
Defronte, numa loja de tabaco...
Que lhe fazia muito mal ao caco!
Diz ele então
Na força da paixão:
— Há casaco melhor que aquela pele?
Trocava o meu casaco por aquele...
E até a mim... por ele.
Tinha razão,
Quanto a mim.
Quem não tem coração,
Quem não tem alma de satisfazer
As niquices da civilização,
Homem não deve ser;
Seja saguim,
Que escusa tanga, escusa langotim:
Vá para os matos,
Já não sofre tratos
A calçar botas, a comprar sapatos;
Viva nas tocas como os nossos ratos,
E coma cocos, que são mais baratos!
Paula
de Nuno Júdice, Guia de Conceitos Básicos
Use o poema para elaborar uma estratégia
de sobrevivência no mapa da sua vida. Recorra
aos dispositivos da imagem, sabendo que
ela lhe dará um acesso rápido aos recursos
da sua alma. Evite os atolamentos
da tristeza, e acenda a luz que lhe irá trazer
uma futura manhã quando o seu tempo
se estiver a esgotar. Se precisar de
substituir os sentimentos cansados
da existência, reinstale o desejo
no painel do corpo, e imprima os sentidos
em cada nova palavra. Não precisa
de dominar todos os requisitos do sistema:
limite-se a avançar pelo visor da memória,
procurando a ajuda que lhe permita sair
do bloqueio. Escolha uma superfície
plana: e deslize o seu olhar pelo
estuário da estrofe, para que ele empurre
a corrente das emoções até à foz. Verifique
então se todas as opções estão disponíveis: e
descubra a data e a hora em que o sonho
se converte em realidade, para que poema
e vida coincidam.
Daniel
de Alice Gomes, Na idade dos porquês
Professor diz-me porquê?
Por que voa o papagaio
que solto no ar
que vejo voar
tão alto no vento
que o meu pensamento
não pode alcançar?
Professor diz-me porquê?
Por que roda o meu pião?
Ele não tem nenhuma roda
E roda gira rodopia
e cai morto no chão...
Tenho nove anos professor
e há tanto mistério à minha roda
que eu queria desvendar!
Por que é que o céu é azul?
Por que é que marulha o mar?
Porquê?
Tanto porquê que eu queria saber!
E tu que não me queres responder!
Tu falas falas professor
daquilo que te interessa
e que a mim não interessa.
Tu obrigas-me a ouvir
quando eu quero falar.
Obrigas-me a dizer
quando eu quero escutar.
Se eu vou a descobrir
Fazes-me decorar.
É a luta professor
a luta em vez de amor.
Eu sou uma criança.
Tu és mais alto
mais forte
mais poderoso.
E a minha lança
quebra-se de encontro à tua muralha.
Mas
enquanto a tua voz zangada ralha
tu sabes professor
eu fecho-me por dentro
faço uma cara resignada
e finjo
finjo que não penso em nada.
Mas penso.
Penso em como era engraçada
aquela rã
que esta manhã ouvi coaxar.
Que graça que tinha
aquela andorinha
que ontem à tarde vi passar!...
E quando tu depois vens definir
o que são conjunções
e preposições...
quando me fazes repetir
que os corações
têm duas aurículas e dois ventrículos
e tantas
tanta mais definições...
o meu coração
o meu coração que não sei como é feito
nem quero saber
cresce
cresce dentro do peito
a querer saltar cá para fora
professor
a ver se tu assim compreenderias
e me farias
mais belos os dias.
Fernando
de Manoel de Barros, definição de Poesia
Poesia, s.f. -
Raiz de água larga no rosto da noite
Produto de uma pessoa inclinada a antro
Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã
Espécie de réstia espantada que sai pelas
frinchas de um homem
Designa também a armação de objetos lúdicos com
emprego de palavras imagens cores sons etc. -
geralmente feitos por crianças pessoas
esquisitas loucos e bêbados
diz ainda o Manoel de Barros que "as coisas sem importância são bens de poesia"
Paulo
de Alexandre O'Neill, de Porta em Porta
– Quem? O infinito?
Diz-lhe que entre.
Faz bem ao infinito
estar entre gente.
– Uma esmola? Coxeia?
Ao que ele chegou!
Podes dar-lhe a bengala
que era do avô.
– Dinheiro? Isso não!
Já sei, pobrezinho,
que em vez de pão
ia comprar vinho . . .
– Teima? Que topete!
Quem se julga ele
se um tigre acabou
nesta sala em tapete?
– Para ir ver a mãe?
Essa é muito forte!
Ele não tem mãe
e não é do Norte . . .
– Vítima de quê?
O dito está dito.
Se não tinha estofo
quem o mandou ser
infinito?
Virgínia
de Mário Dionísio, Arte Poética
A poesia não está nas olheiras imorais de Ofélia
nem no jardim dos lilases.
A poesia está na vida,
nas artérias imensas cheias de gente em todos os sentidos,
nos ascensores constantes,
na bicha de automóveis rápidos de todos os feitios e de todas as cores,
nas máquinas da fábrica e nos operários da fábrica
e no fumo da fábrica.
A poesia está no grito do rapaz apregoando jornais,
no vaivém de milhões de pessoas conversando ou praguejando ou rindo.
Está no riso da loira da tabacaria,
vendendo um maço de tabaco e uma caixa de fósforos.
Está nos pulmões de aço cortando o espaço e o mar.
A poesia está na doca,
nos braços negros dos carregadores de carvão,
no beijo que se trocou no minuto entre o trabalho e o jantar
- e só durou esse minuto.
A poesia está em tudo quanto vive, em todo o movimento,
nas rodas do comboio a caminho, a caminho, a caminho
de terras sempre mais longe,
nas mãos sem luvas que se estendem para seios sem véus,
na angústia da vida.
A poesia está na luta dos homens,
está nos olhos abertos para amanhã.
Paulo M.
de Teixeira de Pascoaes, Canção de uma sombra
Ah! se não fosse a névoa da manhã
E a velhinha janela onde me vou
Debruçar para ouvir a voz das coisas,
– Eu não era o que sou.
Se não fosse esta fonte que chorava
e como nós, cantava e que secou …
e este sol que eu comungo, de joelhos,
– Eu não era o que sou.
Ah! se não fosse este luar que chama
Os aspectos à Vida, e se infiltrou,
Como fluido mágico, em meu ser,
– Eu não era o que sou.
E se a estrela da tarde não brilhasse;
E se não fosse o vento que embalou
Meu coração e as nuvens nos seus braços
– Eu não era o que sou.
Ah! se não fosse a noite misteriosa
Que meus olhos de sombras povoou
E de vozes sombrias meus ouvidos,
– Eu não era o que sou.
Sem esta terra funda e fundo rio
Que ergue as asas e sobe em claro vôo;
Sem estes ermos montes e arvoredos
– Eu não era o que sou.
de Sophia de Mello Breyner-Andresen, O Poema in Livro Sexto
O poema me levará no tempo
Quando eu não for a habitação do tempo
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Xana F.
de Roald Dahl, A branca de neve e os 7 matulões (... anões) in Histórias em Verso para Meninos Perversos
Helena Pinto.
de Alberto Janes, Ó Senhor vinho
Ouça lá, ó senhor vinho
Vai responder-me, mas com franqueza,
Porque é que tira toda a firmeza
A quem encontra no seu caminho?
Lá por beber um copinho a mais,
Até pessoas pacatas, amigo vinho,
Em desalinho,
Vossa mercê faz andar de gatas!
É mau o procedimento
E a intenção daquilo que faz,
Entra-se em desiquilíbrio,
Não há equilíbrio que seja capaz,
As leis da física falham
E a vertical de qualquer lugar
Oscila sem se deter e deixa de ser prependicular!
Eu já fui, responde o vinho,
A folha solta a bailar ao vento
Que o raio de Sol do firmamento
Me trouxe à uva doce carinho.
Ainda guardo o calor do Sol
E assim eu até dou vida,
Aumento o valor seja de quem for
Na boa conta, peso e medida
E só faço mal a quem me julga ninguém,
Faz pouco de mim,
Quem me trata como água,
É ofensa paga, eu cá sou assim
Vossa mercê tem razão,
É ingratidão falar mal do vinho
E a provar o que digo
Vamos, meu amigo, a mais um copinho
Eu já fui, responde o vinho,
A folha solta a bailar ao vento
Que o raio de Sol do firmamento
Me trouxe à uva doce carinho.
Ainda guardo o calor do Sol
E assim eu até dou vida,
Aumento o valor seja de quem for
Na boa conta, peso e medida
E só faço mal a quem me julga ninguém,
Faz pouco de mim,
Quem me trata como água,
É ofensa paga, eu cá sou assim
Vossa mercê tem razão,
É ingratidão falar mal do vinho
E a provar o que digo
Vamos, meu amigo, a mais um copinho
e para quem quiser recordar este "fado" cantado pela Amália...
(para os mais afoitos deixam-se também os acordes)
Delfina
de Zé Loureiro, A Loba e a Pátria dos Tansos
Helena R.
de Sophia de Mello Breyner-Andresen, I | III-Homenagem a Ricardo Reis in Dual
Não creias, Lídia, que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.
Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.
Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.
Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo
Ana França
de sua autoria
CHUVA
Aconchegos - Lugares
Em dias que chove
assim, sem parar,
o meu dia fica
de pernas para o ar!
Em vez de acordar
só quero dormir:
a água do céu
embala ao cair...
Se a mãe me deixasse
experimentar
perdia a vergonha:
saía à rua,
mesmo ali à porta,
o frasco do gel
a toalha em punho
e havia de ser
um duche a preceito
com águas das nuvens
a cair assim
mesmo para mim
dos céus
no meu peito!
LAGO
Fronteiras - Passagens
Espelho.
Lago.
Reflexo de água,
mudo, encantado.
Espelho aguado,
líquido, molhado.
Lanço uma pedrinha
assim, a rasar…
O espelho vai estilhaçar?
Oh! Não, o espelho é água!
A pedrinha salta
faz desenhos de água.
Ondinhas, mansinhas…
Lago.
Quieta superfície
como uma planície
molhada de sonho…
O que terá no fundo?
Ana Valente
de Cecília Meireles, Desenho (excerto)
E minha avó cantava e cosia. Cantava
canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.
E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos
e palavras de amor em minha roupa escritas
António
de Ary dos Santos, Poeta castrado não!
Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.
Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:
Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?
Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?
E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!
Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
Cristina
"amiga... tenho aqui uma dor... ultimamente já só saio para ir aos médicos!"
POEMAX XR
(ensaios clínicos no Hospital de Santo Tirso)
Como não podia deixar de ser terminámos em festa pois recentemente fizeram anos a Teresa e a Mariana
Para quem pediu, podem ver a receita do Bolo de Chocolate aqui.
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