As próximas sessões realizam-se nos dias 13 e 27 de Julho;
Para estas duas sessões não há tema, uma vez que já vamos trabalhar nos textos a apresentar no aniversário da biblioteca de Alcochete (dia 11 de Setembro);
Pedimos que tragam no próximo dia 13 de Julho:
ou uma frase, ou um poema muito curto, ou um pequeno excerto de poema sobre:
livros, leitura, bibliotecas, palavras, etc.
para ser usado no aniversário da biblioteca.
Precisamos que nos confirmem (quem ainda não o fez, claro) se vão estar presentes no dia 11 de Setembro (só para podermos minimamente programar as coisas)
E para já, é tudo.
Se tiverem alguma dúvida, é só dizerem.
Os objectivos continuam a ser os mesmos; promover o prazer da leitura partilhada; a forma passou a ser outra.
22 Junho 2010 - Livro do dia
Para hoje escolhi este livro, "A voz de Lila" de Chimo, pseudónimo de um autor anónimo. Este livro chegou à editora em dois cadernos vermelhos de papel quadriculado marca Clairefontaine, escritos com esferográfica bic e difíceis de decifrar. Ficará para sempre a dúvida se se trata de um autor confirmado ou do primeiro romance de um jovem escritor com talento.
Eis o excerto que escolhi para vos ler:
(...) Não sei escrever lá muito bem mas dá-me gozo apetece-me.
Na escola os outros só sabiam dar estrilho, abrir a boca, dar estalos com os nós dos dedos, peidar-se como se estivessem nalgum concurso, escrever porcarias em todo o lado e mesmo com as mãos metidas na merda, o Mouloud uma vez até apareceu com uma arma na aula, era do irmão, ou então mandar piadas aos profes que às vezes até saíam a chorar, lembro-me da minha profe de francês com os olhos vermelhos à espera do autocarro à chuva, aos que vinham de carro furávamos-lhes os pneus, partíamos-lhes os vidros, nos corredores da escola também gamavam sempre o extintor, uma coisa que até se vende muito mal, eu cá acho que se calhar era uma estupidez não aproveitar na escola, pensar só em zaragatas na droga nos projectos de destruição aqui e ali, nuns tostões a ganhar, tudo provisório, resultado à saída um gajo já parece um velho e não sabe nada, nada de nada, e ainda por cima muitas vezes os chuis já o mancaram, dá por ele largado sujo na natureza de cimento, casa-trabalho népia-casa. Aí já não pensa em estrilho e porque é que lhe iam dar trabalho se não sabe nada. Vá lá, cadeia com ele, vá.
(...)
aqui ficam duas recensões ao livro:
uma de Urbano Tavares Rodrigues
e outra de Fernanda Botelho
Eis o excerto que escolhi para vos ler:
(...) Não sei escrever lá muito bem mas dá-me gozo apetece-me.
Na escola os outros só sabiam dar estrilho, abrir a boca, dar estalos com os nós dos dedos, peidar-se como se estivessem nalgum concurso, escrever porcarias em todo o lado e mesmo com as mãos metidas na merda, o Mouloud uma vez até apareceu com uma arma na aula, era do irmão, ou então mandar piadas aos profes que às vezes até saíam a chorar, lembro-me da minha profe de francês com os olhos vermelhos à espera do autocarro à chuva, aos que vinham de carro furávamos-lhes os pneus, partíamos-lhes os vidros, nos corredores da escola também gamavam sempre o extintor, uma coisa que até se vende muito mal, eu cá acho que se calhar era uma estupidez não aproveitar na escola, pensar só em zaragatas na droga nos projectos de destruição aqui e ali, nuns tostões a ganhar, tudo provisório, resultado à saída um gajo já parece um velho e não sabe nada, nada de nada, e ainda por cima muitas vezes os chuis já o mancaram, dá por ele largado sujo na natureza de cimento, casa-trabalho népia-casa. Aí já não pensa em estrilho e porque é que lhe iam dar trabalho se não sabe nada. Vá lá, cadeia com ele, vá.
(...)
aqui ficam duas recensões ao livro:
uma de Urbano Tavares Rodrigues
e outra de Fernanda Botelho
Etiquetas:
CLeVA 1.0,
livro do dia
8 de Junho - Erotismo
Exercícios
Frutos
Pêssegos, pêras, laranjas,
Morangos, cerejas, figos,
Maçãs, melão, melancia
Ó música de meus sentidos,
Pura delícia da língua;
Deixai-me agora falar
Do fruto que me fascina,
Pelo sabor, pela cor,
Pelo aroma das sílabas:
Tangerina, tangerina.
EUGÉNIO DE ANDRADE
**********************
Dióspiros
Há frutos que é preciso
acariciar
com os dedos com
a língua
e só depois
muito depois
se deixam morder
JORGE SOUSA BRAGA
************************
Maçãs e peras
Aceitai,
Como rostos amáveis que se vos mostrassem
Ou tímidos seios palpitando vossas mãos
Estas maçãs: Pérolas entre nós espalhadas
Como botões em seu ramo postos.
Tomai-as e ofertai-as aos presentes
Como vinho preso de surpresa
Pelo gelo do inverno.
Eis também peras para duplicar a minha dádiva,
E apenas se me oferece dizer:
São tão-somente brancas faces
Onde pousaram profundos olhos negros.
IBN AMMAR
O Meu Coração é Árabe
Tradução de Adalberto Alves
***************************
Esse verão
Vinha meio nu
trazia uma cesta de vime cheia de amoras
que colhera nas margens do rio
Passara a tarde toda de silvado em silvado
Na sua mão direita um pequeno arranhão
- Tão quente tão quente
esse verão
JORGE SOUSA BRAGA
***************************
Uma libélula
Uma libélula voa -
de nádega em
nádega
JORGE SOUSA BRAGA
************************
Nem todos os frutos vermelhos
merecem o céu
da tua boca
JORGE SOUSA BRAGA
************************
Basta-me
o teu umbigo de vinho
para ficar bêbado
JORGE SOUSA BRAGA
***********************
Na espessura do bosque
o que a minha mão procurava
era um mirtilo
JORGE SOUSA BRAGA
*************************
Escrevo
com os dedos ainda longos
da carícia
JORGE SOUSA BRAGA
************************
Este fogo
que só com fogo
se pode apagar
JORGE SOUSA BRAGA
**************************
Leituras do dia
O grupo não estava completo, mas ainda assim composto! Aqui ficam algumas das faces do erotismo.
A Palavra (José Afonso) - Helena
Um conto da tradição oral Africana.
Ouve meu Anjo (António Botto) - Isabel
(podem ouvir a musica aqui)
Imaginemos uma ocasião especial, talvez um jantar elegante na sala de jantar de um palácio renascentista transformado em restaurante ou hotel, como tantos nas velhas cidades da Europa. Lustres e candelabros com velas espalham uma luz ténue, espessos tapetes protegem a madeira antiga do soalho, gobelins de trezentos anos cobrem as paredes e frescos mitológicos decoram os tectos. Diante das mesas redondas cobertas com grandes toalhas e decoradas com orquídeas, sentam-se os comensais, vestidos de gala, em cadeiras de espaldares talhados. Rubi e âmbar nas taças, o som apagado de conversas gentis, o tilintar da prata contra a porcelana... Dançam os criados, sacerdotes de uma missa sumptuosa, solícitos, irónicos, levando e trazendo as travessas com deliciosos manjares. Um casal ocupa uma das mesas junto da janela. Os pesados cortinados de brocado estão abertos e através dos vidros vislumbram-se os jardins, na sombra, apenas iluminados por um tímido luar. A mulher, esplêndida, está toda vestida de veludo cor de sangue, com os ombros destapados e duas magníficas pérolas barrocas nas orelhas. O homem veste de preto, impecável, com botões dourados na camisa. Mantêm as costas direitas e a distância precisa entre a cadeira e a mesa, os seus gestos são controlados, algo rígidos, como se se movessem numa rígida coreografia, mas através dos seus gestos estudados capta-se a atracção mútua como um rio turbulento que ameaça levar tudo à sua frente. Sob a toalha, os joehos roçam por acaso um no outro e esse contacto, quase imperceptível, fustiga-os como uma corrente muito forte; uma labareda iracunda sobe pelas coxas e inflama os ventres. Nada muda nas suas posições, mas o desejo é tão intenso que pode ser visto, apalpado, como uma neblina quente apagando os contornos do mundo circundante. Só eles existem. O criado aproxima-se para servir mais vinho, mas não o vêem. Tremem. Ela levanta o garfo, abre os lábios e do outro lado da mesa ele adivinha o sabor da sua saliva e o calor da sua respiração, sente a língua dela a mover-se na sua prórpia boca como um molusco sufocante e terrível. Escapa-se-lhe um gemido que logo dissimula tossindo com discriçãoe levando o guardanapo ao rosto. Ela tem o olhar fixo na última ostra do prato do seu companheiro, uma vulva inchada, palpitante, indecente, molhada de leite oceânico, síntese do seu prórpio desvario. Nada revela a perturbação de ambos. Em silêncio cumprem com decoro, passo a passo, os ritos exactos da etiqueta; mas não ouvem as notas do pianista animando a noite num canto do salão palaciano, atordoa-os o estrepitoso furacão do desejo nos seus peitos. Desencadearam-se forças primitivas: tambores e arquejos de guerra, um sopro de selva, de húmus, de nardos podres insinuando-se através do aroma delicado da comida e do perfume feminino; imagens de carne nua, de abraços cruéis, de lanças inflamadas e flores carnívoras. Sem se tocarem, o homem e a mulher percebem o cheiro e o calor do outro, as formas secretas dos seus corpos no acto da entrega e do prazer, as texturas da pele e do cabelo ainda desconhecidas; imaginam carícias novas, nunca antes sentidas por ninguém, carícias íntimas e atrevidas que inventarão só para eles. Uma fina película de suor cobre as suas testas. Não se olham nos olhos, observam as mãos do outro, mãos cuidadas que seguram os talheres com graciosidade, vão e vêm entre o prato e os lábios, como pássaros. Elevam a taça com um brinde carregado de intenções, por uns instantes os olhares cruzam-se e é como se se beijassem. Ardem, aterrados perante a fúria avassaladora das suas próprias emoções, ela húmida, ele em riste, contando os minutos daquele jantar eterno e, ao mesmo tempo, desejando que aquele suplício se prolongue até que cada fibra dos seus corpos e cada alucinação das suas almas alcance o limite do suportável, calculando quando poderão abraçar-se, dispostos a fazerem-no ali mesmo, em cima da mesa, diante dos jovens bailarinos e de toda aquela comparsa de fantasmas de gala, ela de barriga para baixo sobre a mesa, as pernas abertas, as suas nádegas de ninfa expostas à luz dos candeeiros vienenses, clamando obscenidades, ele atacando-a por detrás entre as dobras de veludo grená, uivando entre pratos partidos, sujos de comida, cobertos de molho, encharcados de vinho, rasgando a roupa em pedaços, arrancando as pérolas barrocas, os botões dourados, mordendo-se, devorando-se. Aquela visão é tão intensa que os dois oscilam à beira de um abismo, prestes a estoirarem num orgasmo cósmico. E então dois criados aparecem junto da mesa, inclinam-se cerimoniosos, colocam diante deles os pratos tapados e com gestos idênticos levantam as tampas metálicas. Bon apetit, murmuram.
O que for, há-de ser (Ar) (in "O Primeiro Canto" de Dulce pontes) - Cecília
(um clip com a musica aqui)
A noite desce... (Florbela Espanca) - Helena M.
(podem relembrar aqui a música)
Beijo na face (João de Deus) - Rodrigo
Incêndio (Maria Teresa Horta in "Só de amor") - Cristina
Frutos
Pêssegos, pêras, laranjas,
Morangos, cerejas, figos,
Maçãs, melão, melancia
Ó música de meus sentidos,
Pura delícia da língua;
Deixai-me agora falar
Do fruto que me fascina,
Pelo sabor, pela cor,
Pelo aroma das sílabas:
Tangerina, tangerina.
EUGÉNIO DE ANDRADE
**********************
Dióspiros
Há frutos que é preciso
acariciar
com os dedos com
a língua
e só depois
muito depois
se deixam morder
JORGE SOUSA BRAGA
************************
Maçãs e peras
Aceitai,
Como rostos amáveis que se vos mostrassem
Ou tímidos seios palpitando vossas mãos
Estas maçãs: Pérolas entre nós espalhadas
Como botões em seu ramo postos.
Tomai-as e ofertai-as aos presentes
Como vinho preso de surpresa
Pelo gelo do inverno.
Eis também peras para duplicar a minha dádiva,
E apenas se me oferece dizer:
São tão-somente brancas faces
Onde pousaram profundos olhos negros.
IBN AMMAR
O Meu Coração é Árabe
Tradução de Adalberto Alves
***************************
Esse verão
Vinha meio nu
trazia uma cesta de vime cheia de amoras
que colhera nas margens do rio
Passara a tarde toda de silvado em silvado
Na sua mão direita um pequeno arranhão
- Tão quente tão quente
esse verão
JORGE SOUSA BRAGA
***************************
Uma libélula
Uma libélula voa -
de nádega em
nádega
JORGE SOUSA BRAGA
************************
Nem todos os frutos vermelhos
merecem o céu
da tua boca
JORGE SOUSA BRAGA
************************
Basta-me
o teu umbigo de vinho
para ficar bêbado
JORGE SOUSA BRAGA
***********************
Na espessura do bosque
o que a minha mão procurava
era um mirtilo
JORGE SOUSA BRAGA
*************************
Escrevo
com os dedos ainda longos
da carícia
JORGE SOUSA BRAGA
************************
Este fogo
que só com fogo
se pode apagar
JORGE SOUSA BRAGA
**************************
Leituras do dia
O grupo não estava completo, mas ainda assim composto! Aqui ficam algumas das faces do erotismo.
A Palavra (José Afonso) - Helena
A palavra gatinhaO rasgão (Henri Gougaud in "O Livro dos Amores") - Mariana
Sem nada por cima
A palavra rompe
investe
perfura
Comprida a palavra perde-se
Em redor da mesa reveste-se organiza-se
A palavra precisa de ternura
Um conto da tradição oral Africana.
Ouve meu Anjo (António Botto) - Isabel
Ouve, meu anjo:Amar dentro do peito (Manuel Maria Barbosa du Bocage) - João
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
Onde a saliva é mel?
Tentou, severo, afastar-se
Num sorriso desdenhoso;
Mas aí!,
A carne do assasssino
É como a do virtuoso.
Numa atitude elegante,
Misterioso, gentil,
Deu-me o seu corpo doirado
Que eu beijei quase febril.
Na vidraça da janela,
A chuva, leve, tinia…
Ele apertou-me cerrando
Os olhos para sonhar -
E eu lentamente morria
Como um perfume no ar!
Amar dentro do peito uma donzela;Noite de sonhos voada (Manuel da Fonseca) - António
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,
Depois da meia-noite na janela:
Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:
Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:
Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo.
Noite de sonhos voadaAmores amores (João de Deus) - Paula
cingida por músculos de aço,
profunda distância rouca
da palavra estrangulada
pela boca armodaçada
noutra boca,
ondas do ondear revolto
das ondas do corpo dela
tão dominado e tão solto
tão vencedor, tão vencido
e tão rebelde ao breve espaço
consentido
nesta angústia renovada
de encerrar
fechar
esmagar
o reluzir de uma estrela
num abraço
e a ternura deslumbrada
a doce, funda alegria
noite de sonhos voada
que pelos seus olhos sorria
ao romper de madrugada:
— Ó meu amor, já é dia!...
Não sou eu tão tolaLembra-me um sonho lindo (Fausto Bordalo Dias) - Mila
Que caia em casar;
Mulher não é rola
Que tenha um só par:
Eu tenho um moreno,
Tenho um de outra cor,
Tenho um mais pequeno,
Tenho outro maior.
Que mal faz um beijo,
Se apenas o dou,
Desfaz-se-me o pejo,
E o gosto ficou?
Um deles por graça
Deu-me um, e, depois,
Gostei da chalaça,
Paguei-lhe com dois.
Abraços, abraços,
Que mal nos farão?
Se Deus me deu braços,
Foi essa a razão:
Um dia que o alto
Me vinha abraçar,
Fiquei-lhe de um salto
Suspensa no ar.
Vivendo e gozando,
Que a morte é fatal,
E a rosa em murchando
Não vale um real:
Eu sou muito amada,
E há muito que sei
Que Deus não fez nada
Sem ser para quê.
Amores, amores,
Deixá-los dizer;
Se Deus me deu flores,
Foi para as colher:
Eu tenho um moreno,
Tenho um de outra cor,
Tenho um mais pequeno,
Tenho outro maior.
(podem ouvir a musica aqui)
Lembra-me um sonho lindo, quase acabadoCanção (Eugénio de Andrade) - Paulo
Lembra-me um céu aberto, outro fechado
Estala-me a veia em sangue, estrangulada
Estoira no peito um grito, à desfilada
Canta, rouxinol, canta, não me dês penas
Cresce, girassol, cresce entre açucenas
Afaga-me o corpo todo, se te pertenço
Rasga-me o ventre ardendo em fumo de incenso
Lembra-me um sonho lindo, quase acabado
Lembra-me um céu aberto, outro fechado
Estala-me a veia em sangue, estrangulada
Estoira no peito um grito, à desfilada
Ai! Como eu te quero! Ai! De madrugada!
Ai! Alma da terra! Ai! Linda, assim deitada!
Ai! Como eu te amo! Ai! Tão sossegada!
Ai! Beijo-te o corpo! Ai! Seara tão desejada!
Tu eras neve.X (Jorge de Sena in "As evidências") - Fernando
Branca neve acariciada.
Lágrima e jasmim
no limiar da madrugada.
Tu eras água.
Água do mar se te beijava.
Alta torre, alma, navio,
adeus que não começa nem acaba.
Eras o fruto
nos meus dedos a tremer.
Podíamos cantar
ou voar, podíamos morrer.
Mas do nome
que maio decorou,
nem a cor
nem o gosto me ficou.
Rígidos seios de redondas, brancasNas ervas (Eugénio de Andrade) - Virgínia
frágeis e frescas inserções macias,
cinturas, coxas rodeando as ancas
em que se esconde o corredor dos dias;
torsos de finas, penugentas, frias,
enxutas linhas que nos rins se prendem,
sexos, testículos, que inertes pendem
de hirsutas liras, longas e vazias
da crepitante música tangida,
húmida e tersa, na sangrenta lida
que a inflada ponta penetrante trila;
dedos e nádegas, e pernas, dentes.
Assim no jeito infiel de adolescentes,
a carne espera, incerta, mas tranquila.
Escalar-te lábio a lábio,Anda vem (António Botto) - Daniel
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar
os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta
aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.
porque é terrivel
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.
abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.
Anda vem..., porque te negas,Excerto de Afrodite - Histórias, Receitas e Outros Afrodisíacos (Isabel Allende) - Helena R.
Carne morena, toda perfume?
Porque te calas,
Porque esmoreces,
Boca vermelha --- rosa de lume?
Se a luz do dia
Te cobre de pejo,
Esperemos a noite presos num beijo.
Dá-me o infinito gozo
De contigo adormecer
Devagarinho, sentindo
O aroma e o calor
Da tua carne, meu amor!
E ouve, mancebo alado:
Entrega-te, sê contente!
--- Nem todo o prazer
Tem vileza ou tem pecado!
Anda, vem!... Dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos...
Tenho saudades da vida!
Tenho sede dos teus beijos!
Imaginemos uma ocasião especial, talvez um jantar elegante na sala de jantar de um palácio renascentista transformado em restaurante ou hotel, como tantos nas velhas cidades da Europa. Lustres e candelabros com velas espalham uma luz ténue, espessos tapetes protegem a madeira antiga do soalho, gobelins de trezentos anos cobrem as paredes e frescos mitológicos decoram os tectos. Diante das mesas redondas cobertas com grandes toalhas e decoradas com orquídeas, sentam-se os comensais, vestidos de gala, em cadeiras de espaldares talhados. Rubi e âmbar nas taças, o som apagado de conversas gentis, o tilintar da prata contra a porcelana... Dançam os criados, sacerdotes de uma missa sumptuosa, solícitos, irónicos, levando e trazendo as travessas com deliciosos manjares. Um casal ocupa uma das mesas junto da janela. Os pesados cortinados de brocado estão abertos e através dos vidros vislumbram-se os jardins, na sombra, apenas iluminados por um tímido luar. A mulher, esplêndida, está toda vestida de veludo cor de sangue, com os ombros destapados e duas magníficas pérolas barrocas nas orelhas. O homem veste de preto, impecável, com botões dourados na camisa. Mantêm as costas direitas e a distância precisa entre a cadeira e a mesa, os seus gestos são controlados, algo rígidos, como se se movessem numa rígida coreografia, mas através dos seus gestos estudados capta-se a atracção mútua como um rio turbulento que ameaça levar tudo à sua frente. Sob a toalha, os joehos roçam por acaso um no outro e esse contacto, quase imperceptível, fustiga-os como uma corrente muito forte; uma labareda iracunda sobe pelas coxas e inflama os ventres. Nada muda nas suas posições, mas o desejo é tão intenso que pode ser visto, apalpado, como uma neblina quente apagando os contornos do mundo circundante. Só eles existem. O criado aproxima-se para servir mais vinho, mas não o vêem. Tremem. Ela levanta o garfo, abre os lábios e do outro lado da mesa ele adivinha o sabor da sua saliva e o calor da sua respiração, sente a língua dela a mover-se na sua prórpia boca como um molusco sufocante e terrível. Escapa-se-lhe um gemido que logo dissimula tossindo com discriçãoe levando o guardanapo ao rosto. Ela tem o olhar fixo na última ostra do prato do seu companheiro, uma vulva inchada, palpitante, indecente, molhada de leite oceânico, síntese do seu prórpio desvario. Nada revela a perturbação de ambos. Em silêncio cumprem com decoro, passo a passo, os ritos exactos da etiqueta; mas não ouvem as notas do pianista animando a noite num canto do salão palaciano, atordoa-os o estrepitoso furacão do desejo nos seus peitos. Desencadearam-se forças primitivas: tambores e arquejos de guerra, um sopro de selva, de húmus, de nardos podres insinuando-se através do aroma delicado da comida e do perfume feminino; imagens de carne nua, de abraços cruéis, de lanças inflamadas e flores carnívoras. Sem se tocarem, o homem e a mulher percebem o cheiro e o calor do outro, as formas secretas dos seus corpos no acto da entrega e do prazer, as texturas da pele e do cabelo ainda desconhecidas; imaginam carícias novas, nunca antes sentidas por ninguém, carícias íntimas e atrevidas que inventarão só para eles. Uma fina película de suor cobre as suas testas. Não se olham nos olhos, observam as mãos do outro, mãos cuidadas que seguram os talheres com graciosidade, vão e vêm entre o prato e os lábios, como pássaros. Elevam a taça com um brinde carregado de intenções, por uns instantes os olhares cruzam-se e é como se se beijassem. Ardem, aterrados perante a fúria avassaladora das suas próprias emoções, ela húmida, ele em riste, contando os minutos daquele jantar eterno e, ao mesmo tempo, desejando que aquele suplício se prolongue até que cada fibra dos seus corpos e cada alucinação das suas almas alcance o limite do suportável, calculando quando poderão abraçar-se, dispostos a fazerem-no ali mesmo, em cima da mesa, diante dos jovens bailarinos e de toda aquela comparsa de fantasmas de gala, ela de barriga para baixo sobre a mesa, as pernas abertas, as suas nádegas de ninfa expostas à luz dos candeeiros vienenses, clamando obscenidades, ele atacando-a por detrás entre as dobras de veludo grená, uivando entre pratos partidos, sujos de comida, cobertos de molho, encharcados de vinho, rasgando a roupa em pedaços, arrancando as pérolas barrocas, os botões dourados, mordendo-se, devorando-se. Aquela visão é tão intensa que os dois oscilam à beira de um abismo, prestes a estoirarem num orgasmo cósmico. E então dois criados aparecem junto da mesa, inclinam-se cerimoniosos, colocam diante deles os pratos tapados e com gestos idênticos levantam as tampas metálicas. Bon apetit, murmuram.
O que for, há-de ser (Ar) (in "O Primeiro Canto" de Dulce pontes) - Cecília
(um clip com a musica aqui)
Ai seja o que forABC Erótico (Noel Ferreira) - Xana
que o amor me traga,
sei que é Primavera neste Inverno;
Ver que o olhar
é de pequenas rugas e de flores,
tão terno...
Sonhar seu beijo na fronte,
a luz no horizonte,
como o primeiro raio de sol.
Sentir por dentro da calma
a paz e a alma dos que não estão sós.
Linda ciranda
ciranda linda,
gira que gira e torna a girar;
Quando eu morrer
oh ciranda linda, deixa um luzeiro
para que o possa ver!
E sempre á volta a girar,
sempre em volta, no ar
de alma solta a te amar.
Para sempre girar,
sempre envolta no ar,
meu amor, meu amor,
o que for, há-de ser!
Abre-te!O duplo apelo das contorcionistas [...] (in "O Meu Pipi", autor... desconhecido) - Alexandra
Beija-me!
Cobre-me!
Amar-te é volúpia
Brincar é malicia
Carícia é pingo de mel.
Ai!
Basta!
Cala-te!
Abraço-te, queres?
Belisco-te, gostas?
Colo-me a ti, einh?
Ah!
Biscoito
Crocante!
Às nuvens subi
Bebendo o teu néctar
Crescendo-me em ti!
Ata-me!
Bebe-me!
Come-me!
Agora imparável
Brutalmente bom
Cada vez melhor!
A noite desce... (Florbela Espanca) - Helena M.
Como pálpebras roxas que tombassemTaras e manias (Marco Paulo) - Patrícia
Sobre uns olhos cansados, carinhosas,
A noite desce... Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!
Assim mãos de bondade me embalassem!
Assim me adormecessem, caridosas,
E em braçadas de lírios e mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!
A noite em sombra e fumo se desfaz...
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe-me embriagada, louca!
E a noite vai descendo, muda e calma...
Meu doce Amor, tu beijas a minh'alma
Beijando nesta hora a minha boca!
(podem relembrar aqui a música)
Quando...- Paulo [preciso que me envies o texto...]
você vem com essa cara
de menina levada para a brincadeira
Dá-me
um arrepio na pele
sinto água na boca
para ficar com você.
Você não tem um pingo de vergooonha
e todo homem sonha
ter alguém assim,
realizando minhas fantasias,
taras e manias,
você vem p'ra mim.
Uma lâide na mesa
uma looouca na cama,
na maior safadêêêza
você diz que me ama.
E na minha cabeça
desvario e loucura,
quando você começa
ninguém mais a segura
E mexe, remexe, se encosta, se enrosca,
se abre, se mostra pra mim.
Me agarra, me morde, me arranha,
não mude que eu queeeeero você sempre assim.
E mexe, remexe, se encosta, se enrosca,
se abre, se mostra pra mim.
Me agarra, me morde, me arranha,
não mude que eu queeeeero você sempre assim.
Beijo na face (João de Deus) - Rodrigo
Beijo na face,
Pede-se e dá-se:
Dá?
Que custa um beijo?
Não tenha pejo:
Vá !
Um beijo é culpa,
Que se desculpa:
Dá?
A borboleta
Beija a violeta:
Vá !
Um beijo é graça,
Que a mais não passa:
Dá?
Teme que a tente?
É inocente...
Vá !
Guardo segredo,
Não tenha medo:
Vê?
Dê-me um beijinho,
Dê de mansinho,
Dê !
Como ele é doce !
Como ele trouxe,
Flor,
Paz a meu seio !
Saciar-me veio,
Amor !
Saciar-me? Louco...
Um é tão pouco,
Flor !
Deixa, concede
Que eu mate a sede,
Amor !
Talvez te leve
O vento em breve,
Flor !
A vida foge,
A vida é hoje,
Amor !
Guardo segredo,
Não tenhas medo
Pois !
Um mais na face,
E a mais não passe !
Dois...
Oh ! dois? piedade !
Coisas tão boas...
Vês ?
Quantas pessoas
Tem a Trindade?
Três !
Três é a conta
Certinha e justa...
Vês?
E que te custa?
Não sejas tonta !
Três !
Três, sim: não cuides
Que te desgraças:
Vês?
Três são as Graças,
Três as Virtudes;
Três.
As folhas santas
Que o lírio fecham,
Vês?
E não o deixam
Manchar, são... quantas?
Três !
Incêndio (Maria Teresa Horta in "Só de amor") - Cristina
Tu acendes a chama
do meu corpo
pões a lenha ao fundo
em sítio seco
Procuras no desejo
o ponto certo
e convocas aí
o lume certo
Se a madeira demora
a ganhar fogo
tomas-me as pernas
e deitas lento o vinho
Riscas os fósforos todos
e depois
é mais um incêndio
que adivinho
2º aniversário da Biblioteca de Alcochete
Existe a possibilidade de os membros do Clube de Leitura virem a fazer uma apresentação pública, no dia 11 de Setembro, à tarde, na Biblioteca de Alcochete, por ocasião das comemorações do seu 2º aniversário.
Para isso precisamos de saber, até à data da nossa próxima sessão (dia 22 de Junho), quem está disposto a participar.
A participação implicará umas quantas sessões de trabalho extra, em Setembro, em datas e horários a definir.
Agradecemos que nos digam, aqui, na biblioteca, por email, como quiserem.
Para isso precisamos de saber, até à data da nossa próxima sessão (dia 22 de Junho), quem está disposto a participar.
A participação implicará umas quantas sessões de trabalho extra, em Setembro, em datas e horários a definir.
Agradecemos que nos digam, aqui, na biblioteca, por email, como quiserem.
Etiquetas:
2º aniversário bma,
CLeVA 1.0,
propostas,
recitais
Subscrever:
Mensagens (Atom)