Leituras:
Mariana:
Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor!
As pessoas não acham parecidas esta linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
in A invenção do dia claro
Mariana:
A Flor - Almada Negreiros
Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor!
As pessoas não acham parecidas esta linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
in A invenção do dia claro
***
Isabel:
Se às vezes digo que as flores sorriem... - Alberto Caeiro
Helena Ramos:
Já calma nos deixou - Luís de Camões
Alexandra Ferreira
A Flor - Gallimard Jeunesse, Claude Delafosse, René Mettler
Helena Policarpo:
Excerto de "Este é o teu reino" de Abilio Estévez
Fernando:
Excerto do conto
Na primavera da sua infância, Anselmo andava pelo jardim verdejante. Entre as flores de sua mãe, havia uma que especialmente o atraía, o lírio. Ele colava a bochecha ao verde- -claro das folhas altas, apertava entre os dedos as suas negras pontas aguçadas, para senti-las, aspirava o perfume da grande e encantadora corola e olhava demoradamente no seu interior. Ali, havia longas filas de dedos amarelos erguendo-se de um fundo azul desmaiado e, por entre eles, corria um caminho claro para trás e para o fundo, penetrando pelo cálice e o mistério azul da flor adentro. Gostava muito delas e olhava longamente aquele interior, e os membros amarelo-delgados pareciam-lhe já uma sebe doirada em redor do jardim de um rei, já uma dupla fileira de belas árvores de sonho que nenhum vento agita, e por entre elas, claro e percorrido por vidrinas artérias vitais, seguia o misterioso caminho para o seu interior. Monstruosamente, a abóbada distendia-se para trás, o caminho perdia-se por entre as árvores doiradas, infinitamente, para o fundo da incomensurável garganta, e por sobre ele, régia e abobadando-se, a curvatura violeta depositava ténues sombras mágicas sobre o silente milagre que permanecia aguardando. Anselmo sabia que era ali a boca da flor, que por detrás das fulgurantes excrescências amarelas, na garganta azul, moravam o coração dela e os seus pensamentos, e que era por sobre aquele gracioso e claro caminho de vítreas artérias que a respiração e os seus sonhos entravam e saíam. (...)
in Contos Maravilhosos
Cecília:
Rosa sem espinhos - Almeida Garrett
Se às vezes digo que as flores sorriem... - Alberto Caeiro
***
Helena Ramos:
Já calma nos deixou - Luís de Camões
***
Alexandra Ferreira
A Flor - Gallimard Jeunesse, Claude Delafosse, René Mettler
***
Helena Policarpo:
Excerto de "Este é o teu reino" de Abilio Estévez
***
Fernando:
Excerto do conto
Íris - Hermann Hesse
Na primavera da sua infância, Anselmo andava pelo jardim verdejante. Entre as flores de sua mãe, havia uma que especialmente o atraía, o lírio. Ele colava a bochecha ao verde- -claro das folhas altas, apertava entre os dedos as suas negras pontas aguçadas, para senti-las, aspirava o perfume da grande e encantadora corola e olhava demoradamente no seu interior. Ali, havia longas filas de dedos amarelos erguendo-se de um fundo azul desmaiado e, por entre eles, corria um caminho claro para trás e para o fundo, penetrando pelo cálice e o mistério azul da flor adentro. Gostava muito delas e olhava longamente aquele interior, e os membros amarelo-delgados pareciam-lhe já uma sebe doirada em redor do jardim de um rei, já uma dupla fileira de belas árvores de sonho que nenhum vento agita, e por entre elas, claro e percorrido por vidrinas artérias vitais, seguia o misterioso caminho para o seu interior. Monstruosamente, a abóbada distendia-se para trás, o caminho perdia-se por entre as árvores doiradas, infinitamente, para o fundo da incomensurável garganta, e por sobre ele, régia e abobadando-se, a curvatura violeta depositava ténues sombras mágicas sobre o silente milagre que permanecia aguardando. Anselmo sabia que era ali a boca da flor, que por detrás das fulgurantes excrescências amarelas, na garganta azul, moravam o coração dela e os seus pensamentos, e que era por sobre aquele gracioso e claro caminho de vítreas artérias que a respiração e os seus sonhos entravam e saíam. (...)
in Contos Maravilhosos
***
Cecília:
Rosa sem espinhos - Almeida Garrett
***
João:
Flor de ventura - Almeida Garrett
Flor de ventura - Almeida Garrett
***
Helena Machado:
Magnólia - Luiza Neto Jorge
Helena Machado:
Magnólia - Luiza Neto Jorge
***
***
Paula:
A Flor e o Colibri - José Jorge Letria
Paula:
A Flor e o Colibri - José Jorge Letria
***
Mila:
De tarde - Cesário Verde
De tarde - Cesário Verde
***
Patrícia:
Excerto de: Viagem sem regresso - Katy Gardner
***
Cristina:
Se com flores se fizeram revoluções
que linda revolução daria este canteiro!
Quando o clarim do sol toca a matinas
ei-las que emergem do nocturno sono
e as brandas, tenras hastes se perfilam.
Estão fardadas de verde clorofila,
botões vermelhos, faixas amarelas,
penachos brancos que se balanceiam
em mesuras que a aragem determina.
É do regulamento ser viçoso
quando a seiva crepita nas nervuras
e frenética ascende aos altos vértices.
São flores e, como flores, abrem corolas
na memória dos homens.
Recorda o homem que no berço adormecia,
epiderme de flor num sorriso de flor,
e que entre flores correu quando era infante,
ébrio de cheiros,
abrindo os olhos grandes como flores.
Depois, a flor que ela prendeu entre os cabelos,
rede de borboletas, armadilha de unguentos,
o amor à flor dos lábios,
o amor dos lábios desdobrado em flor,
a flor na emboscada, comprometida e ingénua,
colaborante e alheia,
a flor no seu canteiro à espera que a exaltem,
que em respeito a violem
e em sagrado a venerem.
Flores estupefacientes, droga dos olhos, vício dos sentidos.
Ai flores, ai flores das verdes hastes!
A César o que é de César. Às flores o que é das flores.
O quê? Valho mais que uma flor
Porque ela não sabe que tem cor e eu sei,
Porque ela não sabe que tem perfume e eu sei,
Porque ela não tem consciência de mim e eu tenho consciência dela?
Mas o que tem uma coisa com a outra
Para que seja superior ou inferior a ela?
Sim tenho consciência da planta e ela não a tem de mim.
Mas se a forma da consciência é ter consciência, que há nisso?
A planta, se falasse, podia dizer-me: E o teu perfume?
Podia dizer-me: Tu tens consciência porque ter consciência é uma qualidade humana
E só não tenho uma porque sou flor senão seria homem.
Tenho perfume e tu não tens, porque sou flor...
Mas para que me comparo com uma flor, se eu sou eu
E a flor é a flor?
Ah, não comparemos coisa nenhuma, olhemos.
Deixemos análises, metáforas, símiles.
Comparar uma coisa com outra é esquecer essa coisa.
Nenhuma coisa lembra outra se repararmos para ela.
Cada coisa só lembra o que é
E só é o que nada mais é.
Separa-a de todas as outras o facto de que é ela.
(Tudo é nada sem outra coisa que não é).
in Poemas Inconjuntos
Excerto de: Viagem sem regresso - Katy Gardner
***
Cristina:
Poema das Flores - António Gedeão
Se com flores se fizeram revoluções
que linda revolução daria este canteiro!
Quando o clarim do sol toca a matinas
ei-las que emergem do nocturno sono
e as brandas, tenras hastes se perfilam.
Estão fardadas de verde clorofila,
botões vermelhos, faixas amarelas,
penachos brancos que se balanceiam
em mesuras que a aragem determina.
É do regulamento ser viçoso
quando a seiva crepita nas nervuras
e frenética ascende aos altos vértices.
São flores e, como flores, abrem corolas
na memória dos homens.
Recorda o homem que no berço adormecia,
epiderme de flor num sorriso de flor,
e que entre flores correu quando era infante,
ébrio de cheiros,
abrindo os olhos grandes como flores.
Depois, a flor que ela prendeu entre os cabelos,
rede de borboletas, armadilha de unguentos,
o amor à flor dos lábios,
o amor dos lábios desdobrado em flor,
a flor na emboscada, comprometida e ingénua,
colaborante e alheia,
a flor no seu canteiro à espera que a exaltem,
que em respeito a violem
e em sagrado a venerem.
Flores estupefacientes, droga dos olhos, vício dos sentidos.
Ai flores, ai flores das verdes hastes!
A César o que é de César. Às flores o que é das flores.
***
Cristina:
O quê? Valho Mais que uma Flor - Alberto Caeiro
O quê? Valho mais que uma flor
Porque ela não sabe que tem cor e eu sei,
Porque ela não sabe que tem perfume e eu sei,
Porque ela não tem consciência de mim e eu tenho consciência dela?
Mas o que tem uma coisa com a outra
Para que seja superior ou inferior a ela?
Sim tenho consciência da planta e ela não a tem de mim.
Mas se a forma da consciência é ter consciência, que há nisso?
A planta, se falasse, podia dizer-me: E o teu perfume?
Podia dizer-me: Tu tens consciência porque ter consciência é uma qualidade humana
E só não tenho uma porque sou flor senão seria homem.
Tenho perfume e tu não tens, porque sou flor...
Mas para que me comparo com uma flor, se eu sou eu
E a flor é a flor?
Ah, não comparemos coisa nenhuma, olhemos.
Deixemos análises, metáforas, símiles.
Comparar uma coisa com outra é esquecer essa coisa.
Nenhuma coisa lembra outra se repararmos para ela.
Cada coisa só lembra o que é
E só é o que nada mais é.
Separa-a de todas as outras o facto de que é ela.
(Tudo é nada sem outra coisa que não é).
in Poemas Inconjuntos
Apenas aqui estão os textos revistos por nós.
ResponderEliminarPara os restantes, há links que podem ter a informação correcta ou conter erros, gralhas e outro tipo de imprecisões, como quase tudo o que existe no espaço virtual.