O antigo Clube de Leitura em Voz Alta deu lugar ao Coro de Leitura em Voz Alta. Tem normalmente um periodicidade quinzenal e acontece na Biblioteca de Alcochete.

Os objectivos continuam a ser os mesmos; promover o prazer da leitura partilhada; a forma passou a ser outra.

22 fevereiro 2011 - Aprendizagem

Nesta sessão era preciso haver trabalho de equipa! E as equipas esmeraram-se! Consta que as aulas da Cristina também estão a dar bom resultado nas prestações do pessoal! Uma sessão memorável!

Equipa 1
Helena P., Isabel, António e João


O Poeta Aprendiz
Vinícius de Morais


Ele era um menino
Valente e caprino
Um pequeno infante
Sadio e grimpante
Anos tinha dez
E asas nos pés
Com chumbo e bodoque
Era plic e ploc
O olhar verde gaio
Parecia um raio
Para tangerina
Pião ou menina
Seu corpo moreno
Vivia correndo
Pulava no escuro
Não importa que muro
Saltava de anjo
Melhor que marmanjo
E dava o mergulho
Sem fazer barulho
Em bola de meia
Jogando de meia-direita ou de ponta
Passava da conta
De tanto driblar


Amava era amar
Amava Leonor
Menina de cor
Amava as criadas
Varrendo as escadas
Amava as gurias
Da rua, vadias
Amava suas primas
Com beijos e rimas
Amava suas tias
De peles macias
Amava as artistas
Das cine-revistas
Amava a mulher
A mais não poder
Por isso fazia
Seu grão de poesia
E achava bonita
A palavra escrita
Por isso sofria
De melancolia
Sonhando o poeta
Que quem sabe um dia
Poderia ser
Pode ser visto aqui... mas não é a mesma coisa!

Equipa 2
Paula e Daniel

Um trabalho que fundiu dois diários: "Diário inventado de um menino já crescido" de José Fanha e "Diário" de Sebastião da Gama. [Paula, quando puderes deixa-mo, para o transcrever para aqui]

Equipa 3
Mariana e Cecília

Devido a problemas técnicos a equipa sofreu por falta de comunicação. O texto foi de Sandra Lima.

Equipa 4
Lena R. e Fernando (e Cristina, mas ela não sabia!)

Uma viagem ao tempo da escola? E uma surpresa para a Cristina que teve que ler de improviso! Dizem as más línguas que no fim a Lena acabou por ficar emocionada porque a Alexandra ficou emocionada e...
B-A-BA B-E-BE BA BE B-I-BI BA BE BI B-O-BO BA BE BI BO B-U-BU BA BE BI BO BU

Verbo Ser
Carlos Drummond de Andrade

Que vai ser quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os 3. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, outro corpo e jeito? Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Doi? É bom? É triste?

Ser: pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas. Ser, ser, ser. Er. R. Repito: Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a?
Posso escolher? Não dá para entender. Não vou ser. Não quero ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser. Esquecer.

Arte Poética V
Sophia de Mello Breyner

(Aqui podem ouvir a Cristina!)

Na minha infância, antes de saber ler, ouvi recitar e aprendi de cor um antigo poema tradicional português, chamado Nau Catrineta. Tive assim a sorte de começar pela tradição oral, a sorte de conhecer o poema antes de conhecer a literatura.
Eu era de facto tão nova que nem sabia que os poemas eram escritos por pessoas, mas julgava que eram consubstanciais ao universo, que eram a respiração das coisas, o nome deste mundo dito por ele próprio. Pensava também que, se conseguisse ficar completamente imóvel e muda em certos lugares mágicos do jardim, eu conseguiria ouvir um desses poemas que o próprio ar continha em si. No fundo, toda a minha vida tentei escrever esse poema imanente. E aqueles momentos de silêncio no fundo do jardim ensinaram-me, muito tempo mais tarde, que não há poesia sem silêncio, sem que se tenha criado o vazio e a despersonalização. Um dia em Epidauro – aproveitando o sossego deixado pelo horário do almoço dos turistas - coloquei-me no centro do teatro e disse em voz alta o princípio de um poema. E ouvi, no instante seguinte, lá no alto, a minha própria voz, livre, desligada de mim.
Tempos depois, escrevi estes três versos:

A voz sobe os últimos degraus
Oiço a palavra alada impessoal
Que reconheço por não ser já minha.




Equipa 5
Alexandra F., Alexandra J. e Ana Rita

Ler doce Ler
José Jorge Letria

A sinopse fica aqui

Equipa 6
Rodrigo, Virgínia e Paulo

 Aqui a versão original.
Lídia
Anaquim

Quem te falou em escolhas certas

Mentiu-te
Quem te apontou caminho sem os percorrer
Quem te mostrou suas aguarelas
Nas telas pintadas por uma só forma de ver

Quem te falou numa verdade
Enganou-te
Há mais verdades escondidas por ai
Somos voláteis
Somos feitos de contrários
Somos todos santos
Somos todos mercenários

Sacrifico
Minha vontade
Por um tiro no escuro
Que nos deixa sós

Custa ver que na realidade
O tiro não foi no escuro
O tiro foi em nós

Não pretendo
Não fazer erros
Vou aprendendo com o mal que trago em mim
E se aprendo
Sinto-me gente
E só é gente quem consegue ser assim

Alguém
Que vendo o mal nunca está bem
Que vendo o mal nunca está bem
Que vendo o mal nunca está bem(2x)

Alguém disse
Que a vida passa a correr
E eu fui na corrida sem sequer me aperceber

Alguém disse
Que a vida passa a correr
E eu fui na corrida sem parar para abastecer

A vida são dois dias
Disse um homem já maduro
Tive o ontem e o hoje
O mais certo é não ter futuro

O velho do Restelo
Diz que a vida são dois dias
E entre o choro e o riso
Eu não deixei horas vazias

Lídia enlaçemos as mãos
Vamos ficar então
Somente a ver passar o rio

Lídia jogemos xadrez
Façamos isso em vez
De dar à guerra o nosso rio

Lídia sejamos alheios
Aos desgostos feios de quem já não quer quem tem

Mas Lídia eu sinto-me vazio
Ao ver passar o rio
Sem te ter nem fazer por ser

Alguém
Que vendo o mal nunca está bem
Que vendo o mal nunca está bem
Que vendo o mal nunca está bem

Alguém
Cuja maldição afinal
Está nessa fraqueza carnal
De querer o bem e ter o mal



As Equipas 7 e 8 jogaram individualmente... então, e porque não?

Helena M.

Do livro Deixa que te conte de Jorge Bucay, a história do "elefante acorrentado".


Augusto

Para uma antologia do dizer de José Jorge Letria ("Não quero deixar de ser aprendiz")


Equipa 9
Cristina e Fernando

Uma pedra no meio do caminho é uma coisa boa? O Fernando parecia achar que sim... Ou uma pedra no meio do caminho é uma coisa má? Acho que a Cristina estava mais para aqui...

E sim,... no pelourinho havia uma pedra no meio do caminho... mas havia quem já não se lembrasse!


No meio do caminho
Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

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