Com o tema de hoje, Coisas Velhas, começámos por ouvir as palavras ditas em voz alta por pessoas que marcaram esta área. Ouvimos os seus estilos, os seus timbres, as suas opções sobre os textos e apreciámos o talento de vozes poderosas que nos marcaram a todos.
Entrou um pobre e pediu (excerto) - Joaquim Paulino Paixão
CD- No paraíso real - Tradição, revolta e utopia no sul de Portugal
Cântico Negro (excerto) - José Régio
CD - José Régio por José Régio
Ternura - David Mourão-Ferreira
CD - Um monumento de palavras
Livro de horas - Miguel Torga
CD - Miguel Torga 80 Poemas
Trova do Vento que passa (excerto) - Manuel Alegre
foto: Geraldo Santos |
CD - Manuel Alegre com Carlos Paredes
Três retratos à la minuta (excerto) - O burguês - Ary dos Santos
CD - Ary 80
Sermão de S. António aos peixes (excerto)
Padre António Vieira por Ary dos Santos
pintura de J. Benlliure |
CD - Sermão de Santo António aos peixes - Textos ditos por Ary dos Santos
Balada da neve (excerto) - Augusto Gil
CD - João Villaret - O melhor dos melhores
Manifesto anti Dantas(excerto)- Almada Negreiros por Mário Viegas
CD - Mário Viegas no centenário de Almada Negreiros - Manifesto anti Dantas
hoje tivemos um clube mais reduzido, já com muitos elementos de férias |
de seguida experimentámos um exercício que fazia parte da disciplina antiga A ARTE DE DIZER:
de um só fôlego e articulando o melhor possível, repetir o maior número de vezes que se consiga, a primeira estrofe do canto I dos Lusíadas
o António fez-nos a sua sugestão de livro do dia:
Jerusalém de Gonçalo M. Tavares
e finalmente passámos às leitura do tema da sessão:
a Cristina, a Fernanda, a Graciete e a Helena, "arrasaram" com a sua versão de O calhambeque de Roberto Carlos
o Miguel também nos trouxe um texto de sua autoria... mas estava sem voz.
O seu texto foi lido pela sua porta voz, Manuela.
Velhos remédios de Miguel Boieiro
Ontem, segunda-feira, ciceronei um amigo de terras distantes que veio a Lisboa. Queria apresentar-lhe alguns dos museus da nossa capital. Gosto muito de museus porque eles estão recheados de coisas “velhas” que fazem a ponte para as coisas “novas” do nosso quotidiano consumista. Elas ajudam-nos a compreender como evoluímos e, em certos casos, como involuímos.
Mas, desgraçado de mim! Às segundas-feiras todos os museus estão encerrados. Todos não! Há um que permanece aberto! É o Museu da Farmácia, situado junto do Miradouro de Santa Catarina, guardado pelo Mostrengo, o terrível Adamastor.
Beneficiando do desconto concedido aos seniores, entrámos. Só os dois. Não havia mais visitantes. Calmamente, deambulámos pelos dois pisos que ostentavam milhares de velhos artefactos com que outrora se tratava da saúde às criaturas de Deus.
A pretexto de protelar a morte, os humanos inventaram remédios, criaram supersticiosas crenças e incutiram nos doentes o otimismo das curas. Numa escassa hora, que foi quanto demorou a visita, viajámos milhares de anos, desde o faraónico Egipto, passando pelos aztecas, maias, tibetanos, chineses, hindus, gregos e romanos, até chegarmos ao século XIX, início da revolução laboratorial com a chamada química de síntese. Vimos o nascer da farmacopeia industrial que deu origem às grandes multinacionais que hoje “cuidam” da nossa saúde. Entretanto, ficaram na nossa retina aqueles objetos antigos que hoje já não se usam: pós dentífricos, rebuçados peitorais, biberões, tira-leites, cremes banha-da-cobra, potes para unguentos, albarelos, frascos piriformes e prismáticos, boiões ovoides, preservativos de pele de porco, vasos de botica esmaltados com curiosas decorações, bacias para sangrias, açucareiros (o açúcar era um remédio, sabiam?), caixinhas com cremes de embelezar e esconder a velhice, vasilhas para o pó de corno do unicórnio, irrigadores, pulverizadores, almofarizes de bronze, de mármore, de marfim, destiladores de essências, seringas para clisteres, equipamentos para o fabrico de pílulas, equipamentos para o fabrico de hóstias, autoclaves, lixiviadores, alambiques, uma enormidade de balanças, pesos e medidas para canadas, quartilhos e onças, embalagens de remédios contra as sezões, para dar vigor ao cabelo, para a fraqueza, para a tosse, o peitoral de cereja do Dr. Ayer, a água da Florida, a tintura de cânfora, as pílulas catárticas, o óleo de fígado de bacalhau, o extrato de salsaparrilha, a água oxigenada pura, o Sanogenol, poderoso tónico, o Lysine, desinfetante que não tem cheiro e tira o mau cheiro, o Depuratol, a única tábua de salvação dos sifilíticos, o Uraseptyl para dissolver o ácido úrico, o Ferro-Quinol para levantar as forças caídas, o Plasma Phosphatado para a tuberculose, o Neurinase para as neurastenias, o Salutaris, grande água purgativa, o Quinado para a falta de apetite, o Ceregumil, alimento vegetariano completo.
Uf! Valha-nos agora os grandes laboratórios que inventam doenças, inventam medicamentos, tornam a inventar, tornam a reinventar, manipulam organismos geneticamente modificados e sugerem, recomendam, prescrevem, exigem para tomar, chupar, engolir, deglutir uma panóplia de novos remédios que curam, que preservam, mas também moribundam e matam, tudo em suprema adoração do novo deus que domina o mundo: o deus dinheiro.
Abaixo as coisas velhas! Vivam as coisas novas!
a Antónia leu um texto de sua autoria
Velhos são os trapos
Coisas velhas e esquecidas encontradas no sótão e até mesmo no lixo, com um pouco de criatividade, bom gosto e vontade; já se vê, podem fazer-se coisas muito úteis e económicas e até mesmo muito belas. Chama-se a isto reciclagem.
O termo velho, pode utilizar-se em vários contextos, até mesmo para se referir a algo que poderá ter só um dia ou até horas. Como por exemplo, quando ouvimos uma notícia que já é do nosso conhecimento, dizemos; isso para mim já é velho.
Velho em relação ao ser humano é sinal de longevidade, sapiência, sabedoria e experiência de vida. Mas por vezes não são reconhecidos como tal e sim como um fardo para a sociedade, o que está profundamente errado.
Alcochete 14/07/2012
a Marília trouxe-nos um poema de Fernando Pinto do Amaral
Espólio
Um passaporte com alguns carimbos
de lugares inverosímeis; a primeira
caderneta escolar
com o hesitante rasto desse rosto
que tinhas aos dez anos; velhos óculos
na trégua das gavetas; os relógios
cujos ponteiros hão-de ignorar
as ciladas do tempo; alguns telefones
antigos, negros monstros
onde haverá quem oiça ainda
o som da tua voz;
cadernos, cartas, dossiers, agendas
e livros e cassetes e CDs
onde encenaste o fogo, onde aprendeste
a iludir o mundo com o metal
fundente da beleza; mil rascunhos
de frases que o futuro há-de tornar
dissonantes; verdades ou mentiras
que arriscaste escrever num pueril
jogo de azar; rastilhos que ateaste
em nome da euforia descartável
que foi sempre o desejo;
e, claro, o teu último bilhete
de identidade com o número
5332953.
Objectos, apenas objectos
desses a que por hábito chamamos
«pessoais»
- matéria talvez útil para algum
ocioso biógrafo; objectos,
será tudo o que alguém
recordará que um dia foste enquanto
duraste neste corpo – tudo isso
alguém um dia levará de ti
para onde?
Poemas escolhidos (1990 – 2007)
a Ana leu-nos dum velhinho Almanach Bertrand, "Os garotos dos jornais" de António Ferro
Os garotos dos jornais são as gargalhadas da cidade. Lisboa ri nos seus pregões. Eles são tão precisos no Rocio, às portas dos cafés, como os pardais no Largo das Duas Egrejas, sobre as árvores… No dia em que eles desaparecessem, Lisboa deixaria de ser uma cidade alegre, deixaria de ser uma cidade em letras gordas, uma cidade em parangonas… Os próprios jornais acabariam...
o Fernando leu um excerto de um de quatro artigos publicados por Manuel Laranjeira em 1907 e 1908 no jornal "O Norte", diário republicano do Porto, com o título "O Pessimismo Nacional" , compilados em livro em 2008
(...)Diz-se que a sociedade portuguesa vai atravessando uma crise sobre aguda de sombrio-pessimismo.
Decerto, numa sociedade, onde o pensamento representa um capital negativo, um fardo embaraçoso para jornadear pelo caminho da vida;
num povo, onde essa minoria intelectual, que constitui o orgulho de cada nação, se vê condenada a cruzar os braços com inércia desdenhosa, ou a deixá-los cair desoladamente, sob pena de ser esterilmente derrotada;
num país, onde a inteligência é um capital inútil e onde o único capital deveras produtivo é a falta de vergonha e a falta de escrúpulos – o diagnóstico impõe-se por si.
O desalento e a descrença alastram. No ar respira-se cepticismo. E, à medida que o mal-estar colectivo se vai resolvendo quotidianamente em tragédias individuais, o sentido da vida, em Portugal, parece ser cada vez mais fúnebre e mais indicativo de que vamos arrastados, violentamente arrastados por um mau destino, para a irreparável falência e de que nos afundamos definitivamente.
Mas porquê? (...)
o João leu-nos um texto de sua autoria
Tudo é novo
O Budismo não acredita na existência de uma realidade fixa e permanente. A única verdade possível de constatar na existência é: a Constante Mudança.
Neste Mundo nada é estático. Tudo sofre mudança e alteração. A decadência é inerente a todas as coisas e a existência, não mais que um contínuo movimento de transformação.
A Vida deve ser comparada a um rio, uma série sucessiva de momentos distintos mas que se juntam e encadeiam de tal forma, que criam a ilusão de pacífica continuidade.
Tudo se move de causa em causa, de consequência em consequência, de um ponto a outro, de um estado de existência a outro, criando a ilusão de movimento que na verdade não o é. O Rio que vejo agora… não é o mesmo que vejo….. AGORA, segundos depois. São outras as gotas de água que testemunho. Assim é a Vida. Muda continuamente convertendo-se em novas realidades, de cada momento para o outro.
É uma ilusão pensar que eu sou o mesmo que se levantou à pouco daquela cadeira. Células em mim morreram e nasceram. Tal como as ondas do mar, nestes breves instantes em que me empenhei em ler as linhas anteriores, novos pensamentos e sensações nasceram e se esbateram involuntariamente na minha mente. Criaram-se e Esgotaram-se novas Energias. Lamento o desconforto de dizer-vos mas… eu… já sou outro.
A impermanência é a única verdade da nossa existência. Da nossa e da de TODAS as coisas. A única verdade. Não existem por isso coisas velhas: TUDO…, Tudo é Novo a cada instante.
a Anabela leu-nos de sua autoria
Relato de uma aventura com coisa velha à mistura
o António leu-nos de sua autoria
Carta do Martim para a minha vó grande
No dia em que a minha avó faz 83 anos
Eu sou o Martim e sou pequenino. Tenho uma vó grande, mas a vó grande é mais pequenina que a outra vó. Eu explico: a vó Bibi é mamã da vó Lícia; avó Lícia é mamã da mamã!
Vó Bibi, ainda não disse, mas esta carta é para te dar os parabéns! Disse-me a mamã que fazes 83 anos. Eu não sei o que é fazer 83 anos. Por exemplo, eu não sei como brincavas, vó, quando já tinhas estes anos (2) como eu. Eu não sei como ias para a escola: ias de carroça, vó? ias de mula?
Tinhas bonecos, vó? Qual era a brincadeira de que gostavas mais? À macaca? Jogavas à bola? Ao pião e ao berlinde deviam ser só os meninos, não era? Eu gosto muito das escondidas!
Tinhas já uma irmãzinha, a ti Childa. Hoje já é quase do meu tamanho… mas é grande! Ainda tiveste uma mana mais nova, a ti Lisa.
Depois cresceste, explicou-me a vó Lícia. Ficaste uma mulherzinha. Ias brincar com os meninos, não era, vó?
A seguir foste trabalhar. Naquela altura as pessoas iam trabalhar muito cedo. Ajudavam muito os seus papás, davam de comer aos animais, regavam as plantas e ainda arrumavam a casa toda! Ia pá!
Ordenhavas as vacas e distribuías o leite do senhor Tomé, foste vendedora no mercado, fazias muitos turnos na fábrica das azeitonas. E que mais, vó? Tantas coisas, vó! Aprendeste muitas coisas? Também quero aprender o que tu aprendeste.
Então conheceste o vó Anibal. Viviam numa casinha já um bocadinho longe, ao pé da entrada da vila, mas era campo. Nessa casinha, cresciam animais e verduras.
Vendias as hortaliças na praça. As senhoras regateavam muito? Não usavas calculadora, pois não? Eras boa a matemática, vó!
Ena, nasceu a tua primeira filhota, a vó Lícia. Tiveste que aprender a ensinar e a ser mamã. Passaram estes anos (6), diz-se seis, não é, vó? e tiveste outra filha. Duas meninas. É a ti Té. A ti Té era mais bem comportadinha. A vó Lícia gostava de cantar ao ouvir as cassetes do Carlos Paião. A ti Té gostava de brincar na rua como os outros meninos e de andar de baloiço. Depois foste morar na mesma rua que hoje moras! Já viste? Que engraçado. Mas ainda viveste na Chão do Conde, e foi muito tempo! A mamã conta que ela e os pimos brincavam lá no quintal, para cima para baixo.
Um dia as meninas já eram meninas grandes. A vó Lícia foi viver para o Barreiro. Às vezes também eu vou para o Barreiro com ela. Casou com o vô Vitó. Era muito negociadora. Ainda é, que eu às vezes vou com ela às compras. Depois a ti Té casou com o ti Agusto. Ele tem couves e galinhas no quintal. A seguir nasceu a mamã. Era malandra e gostava de correr com os meninos. Depois foram os pimos, a Andéa e o Minelo. E eu, vó! E eu também!
Ena são tantos. São tantos a seguir a ti.
A mamã disse que as vós são segundas mamãs. Eu não sei bem o que isso quer dizer… Então quantas vezes foste mamã, vó Bibi? Que conta complicada!
São estes todos vó. Os netos, os pimos, os maridos e as mulheres, os manos e cunhados. São estes todos, vó. Ena!
Vó, vó, deixa-me dar-te um beijinho.
Um xi coração do netinho netinho, Martim
Quem quiser seguir "os escritos" do António pode fazê-lo aqui
a Adília foi ao baú das suas recordações e também nos leu um texto de sua autoria
COISAS VELHAS
Há tanta coisa velha por aí, no
sótão, numa ou noutra divisão da casa, na vida, na alma, no
coração … enfim, por aí …
Há tanta coisa … velha ….. por aí
!!!
umas morreram já … lá pelo passado,
nunca mais delas ouvirei falar …
outras ainda reaparecem, de quando em
vez … aos nossos olhos … outras na memória, como velhos
fantasmas sem alma, sem lugar …
Há tanta coisa velha por aí …
tantas … de ninguém … tantas … cheias de nada
umas que já nem o são …
outras … quantas(?) ainda o serão
num dia … que ainda não veio!!!
COISAS VELHAS … LÁ DO SOTÃO
Cheias de pó … demasiado
insignificantes, há muito postas de parte, abandonadas, logo
esquecidas!!! Mas … de repente despertadas … pelo imprevisto d’um
espirro!!!
Na visita ao sótão … o olhar,
habitualmente, segue lento pelas Coisas que ressuscitam lembranças
da infância, da escola, dos velhos amigos, dos pais, dos amores e
desamores ….
Fragmentos do passado escondidos entre
objetos, caixas, papéis, roupas e outras tantas coisas … que nos
embalam na máquina do tempo e nos puxam para reviver ,
São Momentos de pura psicoterapia …
são … Momentos de redescoberta ... de dor, de exorcização ….
de alegria …….
São parcelas do tempo somadas
incessantemente nas contas da nostalgia …
Afinal, não passam de Velhos objetos,
já sem funcionalidade, velhas memórias sem sentido …
Outrora úteis, vivas, importantes …
agora meras coisas largadas … subtraídas de qualquer utilidade ou
relevância sentimental.
Noutra divisão …. estão encostadas
as velhas bicicletas … pasteleiras …
Também à parede estão encostadas as
memórias dos passeios, daquela tarde em que aprendi a andar de
bicicleta numa descida …
Nesta parte da casa também está
silenciada a antiga grafonola … cuja reparação e conservação há
muito vem sido adiada …mas ainda assim, esta caixa de música
continua a despertar todo o seu encanto e fascínio que nos leva a
desejar que a contemplação possa perdurar para sempre.
No quarto, algures arrumado deve estar
o velho urso de peluche azul … com o pêlo engelhado, o pescoço já
reabilitado depois de ter sido cosido com uma linha branca e forte
que a minha mãe tinha no seu também, já por si, velho açafate de
costura!!!
São meros objetos …?
E … Porque ainda estão lá em casa?
Perante eles, somos irracionais quando
justificamos que, a eles, algo nos liga … algo nostálgico e
simbólico que não queremos apagar. Ou melhor, ainda não
conseguimos apagar. Agora não!!! Talvez um dia!!! Talvez até nos
acompanhem para sempre deambulando nas malhas deste eterno
dilema?!?!? Até, quando? Até, quem sabe, sermos, também nós …
Velhos!!!
COISAS VELHAS ….
COISAS VELHAS …. PARA RECICLAR
ÀS quais queremos dar uma vida nova …
Coisas velhas … sim!!!
Mas que continuam a fazer sentido …
coisas que, com imaginação, são presenteadas com uma nova função.
E … magicamente, ganham uma nova
graça, uma nova força!!!
Decidimos afinal … que merecem
continuar-nos a acompanhar vida fora!!!
COISAS VELHAS … GUARDADAS COM ESTIMA
Velhas Fotografias a preto e preto,
amareladas, algumas um pouco estragadas …
Velhos retratos d’uma vida que
continua …
mas que reclama a presença destes
pedaços do passado para poder sobreviver.
Um passado, testemunha fiel da minha
origem, do meu crescimento, dos meus sonhos, entretanto desvanecidos,
mas também daqueles que ainda ambicionam desenhar-se na realidade.
Velhos retratos d’uma vida que
continua …
De momentos guardados, arrumados,
perpetuados … que podemos reviver sempre que nos apetece recuar …
são daqueles momentos especiais em que
sentimos, genuinamente, que mais delicioso que avançar … é ir ao
encontro do passado … fugir para trás do presente …
São tantos, inúmeros … os momentos,
as pessoas, os sentimentos, os olhares…
São “Coisas Velhas”!!!
Já quase esquecidas no pensamento, há
muito desalojadas do coração, mas cujo testemunho material teima e
consegue renascer ou, de alguma forma, perpetuar a sua memória …
Cartas cheias de histórias, saudades,
desânimos, desabafos, partilhas, paixões ingénuas, inocentes,
cheias de emoção, descoberta …
Imagens, Cartas, palavras antigas,
sentimentos passados .... para sempre guardados!!!
Imagens, cartas e outras coisas mais
que agora não me lembro … mas que, quanto mais o tempo, por elas,
passa … mais especiais se tornam para nós …
ENTRE TANTA COISA VELHA, TAMBÉM AS HÁ…
AS COISAS VELHAS … DO CORAÇÃO !!!
As boas e … as outras!!!
Sentimentos que nunca se apagam por
mais veloz que o tempo passe!!!
Por mais que a distância se
multiplique … estão ligados, conectados a Momentos marcantes …
inesquecíveis …
A verdade é que, até pode ter mudado
tudo à nossa volta, tudo pode ser novo(?) … mas as coisas velhas
são como o novo caminho que aqui me permitiu chegar!!!
a Alexandra leu-nos um livro infantil bem velhinho;
"A borboleta amarela" de Emília Duarte de Almeida
a Cíntia leu-nos um texto seu, escrito aos 15 anos
O chapéu
Tenho na parede do meu quarto um chapéu.
É um daqueles chapéus de coco de feltro preto.
Dizem que é feio.
E a mim o que me importa que o meu chapéu seja feio?
Claro que não me importo! E além disso gosto dele.
E gosto dele porque posso dizer “o meu chapéu” e não “o chapéu do vizinho do lado!"
Gosto de lhe chamar “meu”, talvez porque é preto e dizem que é feio.
Gosto de lhe fazer festas e de conversar com ele, talvez porque é mais velho do que eu e não tem amigos...
A sua forma arredondada faz-me lembrar um ovo.
Aqui há dias peguei no chapéu e no ovo e comparei-os: o feitio era realmente parecido, mas a cor... a cor era diferente, um era branco e útil, o outro era preto e feio.
Resolvi abandonar o ovo e continuar a ser amiga do chapéu preto, além de ser muito mais feio e inútil do que o ovo...
Mas fiquei com o chapéu pela simples razão de não o poder comer ao almoço junto com um punhado de batatas fritas!
Lisboa, 18/03/1986
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