Os objectivos continuam a ser os mesmos; promover o prazer da leitura partilhada; a forma passou a ser outra.
O onírico em literatura
trabalho de grupo com o texto:
Rêve Oubliê
Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti
Agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna
Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda duma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo
Contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada
Abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro
E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.
António Maria Lisboa
Cíntia
excerto de "O arranca corações" de Boris Vian
Isabel
excerto de "Cem anos de solidão" de Gabriel Garcia Marquez
Anabela
excerto de "A linguagem dos sonhos" de Julia e Derek Parker
Ana Vieira
Ode à vida de Pablo Neruda de "Odes elementares"
Eugénia
A Fada das Crianças
Do seu longínquo reino cor-de-rosa,
Voando pela noite silenciosa,
A fada das crianças, vem, luzindo.
Papoulas a coroam, e, cobrindo
Seu corpo todo, a tornam misteriosa.
À criança que dorme chega leve,
E, pondo-lhe na fronte a mão de neve,
Os seus cabelos de ouro acaricia —
E sonhos lindos, como ninguém teve,
A sentir a criança principia.
E todos os brinquedos se transformam
Em coisas vivas, e um cortejo formam:
Cavalos e soldados e bonecas,
Ursos e pretos, que vêm, vão e tornam,
E palhaços que tocam em rabecas…
E há figuras pequenas e engraçadas
Que brincam e dão saltos e passadas…
Mas vem o dia, e, leve e graciosa,
Pé ante pé, volta a melhor das fadas
Ao seu longínquo reino cor-de-rosa.
Fernando Pessoa
Helena, Fernanda, Cristina e Graciete
adaptação de O mito de eros e psique de "Os meus primeiros mitos gregos"
Introdução
O onírico em Literatura foi o desafio que nos foi apresentado desta vez.
Como sempre, vários eram os caminhos que se nos depararam mas, optámos por escolher o mito. Pensamos que o mito - fazendo parte integrante do sonho - é talvez o maior de todos os sonhos uma vez que é coletivo. “ O mito é o nada que é tudo” assim disse Fernando Pessoa no seu livro Mensagem, no 1º verso do poema “Ulisses”.
E a mitologia grega é das provas mais evidentes, pois os gregos criaram os mitos não só para preservarem a história do seu povo como para explicar os fenómenos da natureza que nessa época não tinham uma explicação científica. O mito sobreviveu à Ciência e continua – embora numa outra dimensão, claro está – a pertencer aos povos.
De tal modo, que após a Grécia ter sido dominada pelo Império romano em 272 a.C, os romanos também adotaram estes deuses, mas com outras designações. E é assim que Eros, deus do amor, corresponde ao Cupido romano. Psique é a Alma; Afrodite, mãe de Eros, é a Vénus; Perséfone é a Prosérpina e Zeus é Júpiter, deus de todos os deuses. O Monte Olimpo Montanha da antiga Grécia, é onde viviam todos os deuses.
E, entre tantos mitos, escolhemos aquele que nos pareceu mais adequado ao tema: o mito de Eros e de Psique. Porém, fizemos uma adaptação. Porquê uma adaptação? Para tornar o texto numa linguagem mais simplificada e atrativa!
O facto é que em todos os tempos, o sonho comandou a vida – e aqui relembramos António Gedeão e a Pedra Filosofal, e Pelo sonho é que vamos de Sebastião da Gama.
Vamos, então, dizer-vos o mito de Eros e de Psique:
O mito - Eros e Psique
O pai e a mãe de Psique falavam assim:
- A minha filha é a rapariga mais bonita do mundo!
-Ela é ainda mais bonita do que Afrodite!
Afrodite, a deusa do amor, ouviu-os a vangloriarem-se, e ficou absolutamente furiosa. Como podia uma simples rapariga mortal ser mais bonita que uma deusa? E saiu, num turbilhão, à procura do filho, Eros.
Eros era um jovem malicioso que tinha um arco e flechas mágicos. Quando atingia uma pessoa com uma destas flechas, ela não sentia dor, mas apaixonava-se instantaneamente por qualquer pessoa que visse.
Afrodite ao encontrar seu filho ordenou-lhe:
- Eros, quero que faças com que Psique, aquela rapariga desprezível, se apaixone, de preferência por um monstro horrível.
Eros partiu imediatamente em busca de Psique. Gostava de fazer com que as pessoas menos prováveis, até os deuses, se apaixonassem. Encontrou Psique a dormir na relva da encosta de uma montanha. Tirou uma flecha da sua aljava, mas tropeçou numa pedra e a flecha foi direta à sua própria perna. E logo se apaixonou profundamente por Psique. Olhava Psique, perguntando-se o que fazer. Se Afrodite alguma vez descobrisse que ele amava esta bonita rapariga, ela ficaria furiosa com ele. Teria de guardar segredo, fosse como fosse. Pouco depois, Eros pensou num plano. Levou Psique, que continuava adormecida, para o seu maravilhoso palácio, e deitou-a cuidadosamente numa cama. E deixou-a ali ficar.
Nessa noite, e durante muitas noites, Eros ia para o palácio quando estava escuro e saía, todas as manhãs, antes dos primeiros raios da aurora. De início, Psique estava assustada com este homem que nunca vira. Mas ele era tão carinhoso para com ela e falava com ela com tanto doçura que depressa começou a esperar as suas visitas com ansiedade. Um dia Eros disse-lhe:
- Nunca deves tentar descobrir quem eu sou.
As irmãs de Psique ouviram dizer que ela vivia sozinha num belo palácio e foram visitá-la. Queriam saber tudo sobre o homem misterioso, e provocaram-na.
- Talvez ele já tenha mulher e uma série de filhos.
- Talvez ele não deixe que o vejas porque é horrível! Talvez seja um monstro.
- Vão-se embora! Não vos vou dar ouvidos.
Mas quando as irmãs se foram embora, ela sentia-se tão curiosa quanto elas. Ansiava vê-lo. Nessa noite, quando Eros estava a dormir, Psique desceu sorrateiramente e acendeu uma pequenina lamparina de azeite. Em bicos de pés, regressou com a lamparina e levantou-a para poder olhar para o homem que nunca vira antes. Regozijou-se por ele ser jovem e bonito, e sabia que o amava. Debruçando-se sobre ele para o ver mais de perto, uma gota de azeite quente da lamparina caiu no braço dele. Eros acordou e olhou Psique, zangado. Em seguida levantou-se de um salto e, sem dizer uma palavra, rompeu para fora do palácio na escuridão da noite.
Psique atirou-se para cima da cama e chorou até o dia nascer. Vagueou todo o dia, triste, pelo palácio, e, à noite, esperou, desejando desesperadamente que o homem que ela vira viesse ter com ela. Mas, embora tivesse ficado acordada toda a noite, ele não veio. Durante semanas, Psique esperou e chorou. Depois durante meses, procurou por toda a parte o homem que amava.
Quando já não aguentava mais, rezou a Afrodite:
- Deusa do Amor, por favor, ajuda-me!
- É o meu filho Eros que tu amas, mas não podes esperar que um deus ame uma mortal idiota como tu. Embora ele possa voltar para ti, se realizares as tarefas que eu te der.
- Prometo! Prometo fazer tudo o que quiseres se me trouxeres o meu amor de volta…
Afrodite levou-a para um celeiro. No chão estava uma enorme pilha de trigo, centeio e cevada e Afrodite disse-lhe secamente:
- A tua primeira tarefa é separar estes cereais em três montes diferentes até ao fim do dia.
Psique sentou-se e começou a separar os cereais. Cerca de uma hora depois, apercebeu-se de que levaria anos a terminar a tarefa. Olhou a enorme pilha de cereais, desesperada. Depois reparou numa longa coluna de formigas que marchavam pelo solo. Quando chegavam à pilha de cereais, cada formiga agarrava um grão e levava-o para um dos três montes. Ao final do dia, os cereais tinham sido separados em três montes diferentes: um de trigo, outro de centeio e outro de cevada. E as formigas foram-se embora. Afrodite não ficou contente por Psique ter completado a tarefa. Não sabia que Eros enviara as formigas para ajudarem Psique.
- A tua próxima tarefa é ir ao Mundo Subterrâneo buscar uma caixa de unguento de beleza de Perséfone.
A pobre Psique nem sequer sabia como encontrar a entrada para o mundo subterrâneo. Mas, com mais uma ajuda secreta de Eros, ela entrou corajosamente, atravessou o rio Estige com o barqueiro e chegou ao trono de Perséfone. A Rainha do mundo subterrâneo deu a Psique a caixa de unguento dizendo-lhe:
- Nunca abras esta caixa pois ela pode trazer-te muitas complicações.
E, com a ajuda de Eros, Psique depressa encontrou a saída do Mundo Subterrâneo. Mas Psique pensou que, se pusesse no rosto apenas um pouco de unguento de beleza, seria ainda mais bonita e Eros poderia voltar a amá-la. Parando por um momento, levantou a tampa da caixa. Não continha unguento de beleza, mas o sono interminável, que era a morte. De imediato, Psique adormeceu. Eros, que estava a observar tudo, apressou-se a ir ter com Psique e, com um sopro, afastou-lhe o sono dos olhos para a acordar. Psique, então, levou a caixa a Afrodite, enquanto Eros voou até Zeus, o mais poderoso de todos os deuses.
- Por favor, Zeus. Eu quero casar com Psique, mas não posso, a não ser que tu primeiro a tornes imortal.
Zeus que estava bem disposto, sorriu e concordou. Então, Eros foi juntar-se a Psique e disse-lhe:
- Vem! Vamos para o monte Olimpo, e lá nos casaremos. Seremos muito, muito felizes e para sempre.
Alexandra
excerto de "O traseiro do rei" de Raquel Saiz
João
excerto de "Em busca do carneiro selvagem" de Haruki Murakami
Cristina
Como o Manuel não pôde estar presente, a Cristina apresentou o LIVRO DO DIA:
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CLeVA 3.0,
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