tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac |
a Mariana leu-nos excertos de "Os sãos e os loucos" de James Jones. Este livro esteve na origem do filme "A Barreira Invisível" realizado por Terrence Malick |
a Milla leu um excerto de "Em busca do carneiro selvagem" de Haruki Murakami e o conto "O sobrevivente" de Ilse Losa do livro "Estas Searas" |
a Eugénia leu excertos de "Ninguém escreve ao Coronel" de Gabriel García Márquez |
a Ana Maria leu "O tempo nos parques" de Vinicius de Moraes |
O tempo nos parques é íntimo, inadiável, imparticipante, imarcescível.
Medita nas altas frondes, na última palma da palmeira
Na grande pedra intacta, o tempo nos parques.
O tempo nos parques cisma no olhar cego dos lagos
Dorme nas furnas, isola-se nos quiosques
Oculta-se no torso muscular dos fícus, o tempo nos parques.
O tempo nos parques gera o silêncio do piar dos pássaros
Do passar dos passos, da cor que se move ao longe.
É alto, antigo, presciente o tempo nos parques
É incorruptível; o prenúncio de uma aragem
A agonia de uma folha, o abrir-se de uma flor
Deixam um frêmito no espaço do tempo nos parques.
O tempo nos parques envolve de redomas invisíveis
Os que se amam; eterniza os anseios, petrifica
Os gestos, anestesia os sonhos, o tempo nos parques.
Nos homens dormentes, nas pontes que fogem, na franja
Dos chorões, na cúpula azul o tempo perdura
Nos parques; e a pequenina cutia surpreende
A imobilidade anterior desse tempo no mundo
Porque imóvel, elementar, autêntico, profundo
É o tempo nos parques.
de "O operário em construção"
a Vitória leu um excerto de "Um homem singular" de Christopher Isherwood |
a Graciete leu um excerto de "Vovô tsongonhana" de Augusto Carlos |
a Marília leu um excerto de um poema de T. S. Eliot |
A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock
S’i credesse che mia risposta fosse
A persona che mai tornasse al mondo,
Questa fiamma staria senza più scosse.
Ma però che già mai di questo fondo
Non torno vivo alcun, s’i’odo il vero,
Sanza tema d’infamia ti rispondo.
(Dante Alighieri, La Divina Commedia, Inferno)
Então vem, vamos juntos os dois,
A noite cai e já se estende pelo céu,
Parece um doente adormecido a éter sobre a mesa;
Vem comigo por certas ruas semidesertas
Que são o refúgio de vozes murmuradas
De noites em repouso em hotéis baratos de uma noite
E restaurantes com serradura e conchas de ostra:
Ruas que se prolongam como argumento enfadonho
De insidiosa intenção
Que te arrasta àquela questão inevitável...
Oh, não perguntes “Qual será?”
Vem lá comigo fazer a tal visita.
Passeiam damas na sala para além e para aqui
E falam de Miguel Ângelo Buonarroti
A névoa amarela que esfrega as costas nas vidraças
O fumo amarelo que esfrega o focinho nas vidraças
Passou a língua dentro dos recantos da noite,
Demorou-se nos charcos que ficam na sarjeta,
Deixou cair nas costas a fuligem solta das chaminés,
Deslizou pelo terraço, de repente deu um salto,
E, ao ver serena aquela noite de Outubro,
Deu uma volta à casa, enroscou-se e dormiu.
Haverá por certo um tempo
Para o fumo amarelo que desliza pela rua
E esfrega as costas nas vidraças;
Haverá um tempo, tempo
De compor um rosto para olhares os rostos que te olharem;
Tempo de matar, tempo de criar,
E tempo para todos os trabalhos e os dias, de mãos
Que se erguem e te deixam cair no prato uma pergunta;
Tempo para ti e tempo para mim,
E tempo ainda para cem indecisões
E outras tantas visões e revisões
Antes de tomar o chá e a torrada.
Passeiam damas na sala para além e para aqui
E falam de Miguel Ângelo Buonarroti.
Haverá por certo um tempo
De pensar se corro tal risco. “Corro tal risco?”
Tempo de virar costas e descer as escadas
Com esta clareira calva no meio do cabelo –
(Hão-de dizer: “Este já tem pouco cabelo!”)
Com a casaca, colarinho hirto subido até ao queixo,
Gravata distinta e discreta mas ornada de um sóbrio alfinete –
(Hão-de dizer: “Que magro está, nos braços e nas pernas!”)
Vou correr o risco
De perturbar o universo?
Num só minuto há tempo
Para decisões e revisões, a revogar noutro minuto.
Pois já as conheço todas bem, conheço todas –
Sei as noites, as tardes, as manhãs,
Às colheres de café andei medindo a minha vida;
Sei que em breve agonia se esvaem as vozes
Abafadas na música de um quarto mais além.
Como havia eu de ousar, assim?
E já conheço os olhares, conheço todos –
Olhares que te reduzem a fórmulas e a dizeres,
E quando eu for apenas fórmula, esticado em alfinete,
Quando estiver na parede, trespassado, contorcido,
Como haverei então de começar
A cuspir as pontas de cigarro dos meus dias e jeitos?
E como havia eu de ousar, assim?
E já conheço os braços, conheço todos –
Braceletes nos braços brancos e nus
(Mas com uma penugem loira à luz do candeeiro)
Será pelo perfume de um vestido
Que sou levado assim a divagar?
Braços estendidos na mesa ou envoltos num xaile.
E havia eu de ousar assim?
Por onde havia eu de começar?
E se eu disser que dou passeios por becos quando anoitece,
E vou fitando o fumo que sobe do cachimbo
De homens em mangas de camisa, à janela, solitários?...
Eu devia ter sido um ferro de duas garras
A rasgar o fundo desses mares de silêncio.
E a tarde, a noite, a dormir tão sossegada!
Afagada por dedos esguios,
A dormir... exausta... ou a fingir,
Estirada aqui no chão, à beira de nós dois.
Depois do chá, dos bolos, dos gelados, eu tinha ainda
Aquela força que provoca a crise do instante?
Mas apesar de lágrimas e jejuns, lágrimas e preces,
E apesar de ter visto a minha cabeça (um tanto calva já) ser entreguenuma salva,
Não sou nenhum profeta – e isso pouco importa;
Já vi tremer o meu instante de esplendor
E vi o eterno lacaio agarrar-me a casaca, rindo sorrateiro,
E bastará dizer que tive medo.
E tinha valido a pena, depois de tudo isto,
Depois da geleia, das xícaras, do chá,
Entre porcelanas, a meio de qualquer conversa de nós dois,
Tinha valido a pena
Ter rematado o assunto com um sorriso,
Ter estreitado o universo numa bola
E fazê-la rolar, rumo a qualquer questão inevitável,
E dizer: “Sou Lázaro e venho de entre os mortos.
Voltei para vos contar tudo, vou contar-vos tudo” –
Se alguém, ajeitando a cabeça dela numa almofada,
Dissesse: “Não era nada disso que eu queria dizer
Não é isso, nada disso.”
E tinha valido a pena, depois de tudo,
Tinha mesmo valido a pena,
Depois dos pátios, dos poentes, das ruas chuviscadas,
Dos romances, das xícaras de chá, das saias arrastando pelo chão –
E depois disto e tantas coisas mais? –
Não é possível dizer mesmo o que quero dizer!
Mas se uma lanterna mágica mostrasse na tela a imagem dos nervos:
Tinha valido a pena
Se alguém, compondo a almofada ou tirando um xaile,
Dissesse, ao voltar-se para a janela:
“Não é isso, nada disso,
Não era nada disso que eu queria dizer.”
Não! Não sou o príncipe Hamlet e nem tinha que ser;
Sou um fidalgo da corte, desses que servem
Para aumentar a comitiva, abrir uma ou duas cenas,
Dar conselhos ao príncipe; instrumento dócil, é claro,
Reverente, satisfeito por ser prestável,
Político, meticuloso e avisado;
Cheio de sentenças doutas, um tanto obtuso todavia;
Às vezes, por sinal, quase ridículo –
Quase o bobo, às vezes.
Estou a ficar velho... Estou a ficar velho...
Hei-de andar com a dobra da calça revirada.
E se eu puxar atrás o risco do cabelo? Arrisco-me a trincar
um pêssego?
Hei-de vestir calça de flanela branca e passear na praia.
Já ouvi as sereias cantando, umas às outras.
Creio que para mim não vão cantar.
Tenho-as visto na direcção do mar a cavalgar as ondas
Penteando crinas brancas de ondas encrespadas
Quando o vento revolve as águas escuras e brancas.
Ficámos nas mansões do mar nós dois em abandono
Entre as ondinas com grinaldas de algas castanhas purpurinas
Até que vozes humanas nos despertam e morremos naufragados.
Tradução de João Almeida Flor
a Alexandra leu "No século XXVII na cidade de Alcochete" de Luísa Ducla Soares |
a Isabel leu um excerto de "Viver sem tempos mortos", peça de teatro a partir da correspondência entre Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre |
a Helena leu "Quando fores velha" de W.B. Yeats |
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas;
Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;
Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.
Tradução de José Agostinho Baptista
a Rosa leu um excerto de "Livro das horas" de Nélida Piñon |
a Helena leu um excerto de "Katrina´s sun-dial", da colectânea "Music and Other Poems" de Henry van Dyke |
o Fernando fez uma brincadeira com "O relógio" de Russell Edson |
Anos de biliões dois menos pelo adiantado está.
- Preciso tão assim é?
- Não relógio! - o pensava escuro no deitado. E noite mesma nessa morrer por acabou velho.
- O tu, que do tempo o sobre mais saber pode, que é quem boas tão notícias que ah?
- Taque-tique, taque, tique - respondeu criança de bocejo um de simplicidade a com
- Relógio o velho? - o disse anos de biliões dois.
- Viver vou que mesmo achas?
- taque-tique, taque-tique, respondera-lhe tranquilizadora previsibilidade, uma com relógio o, e relógio ao corda dado tinha velho um.
(o poema)
Um velho tinha dado corda ao relógio e o relógio, com uma previsibilidade tranquilizadora, respondera-lhe, tique-taque, tique-taque.
Achas mesmo que vou viver dois biliões de anos, disse o velho?
O relógio, com a simplicidade de um bocejo de criança respondeu, tique-taque, tique-taque...
Ah, que notícias tão boas, quem é que pode saber mais sobre o tempo do que tu?
O velho acabou por morrer nessa mesma noite. E, deitado no escuro, pensava, o relógio não é assim tão preciso. Está adiantado pelo menos dois biliões de anos...
de "O espelho atormentado"
Tradução de Guilherme Mendonça
a Cristina leu "A Primavera" do livro "Platero e Eu" de Juan Ramón Jiménez |
Ai, que lumes e perfumes!
Ai, como riem os prados!
Ai, que alvoradas se ouvem!
(Romance popular)
No meu entredormir matinal, irrita-me uma endiabrada gritaria do rapazio. Finalmente, sem poder dormir mais, levanto-me, desesperado, da cama. Então ao olhar pela janela aberta, vejo que quem faz barulho são os pássaros.
Saio para o horto e dou graças a Deus por este dia azul. Concerto livre de bicos, fresco e sem fim! A andorinha ondula, caprichosa, o seu gorjeio no poço; o melro assobia sobre a laranja caída; de fogo, o verdilhão palra no sobreiro; o chamariz ri longa e finamente no alto do eucalipto; e, no pinheiro grande, os pardais discutem desaforadamente.
Que manhã! O sol põe na Terra a sua alegria de prata e de ouro; borboletas de cem cores brincam por toda a parte, entre as flores, dentro de casa, na fonte. O campo abre-se em estalidos, encrepitações, num fervedouro de vida nova e sã.
É como se estivéssemos dentro de um grande favo de luz que fosse o interior de uma imensa e cálida rosa acesa.
o António Gil leu um excerto do livro "Por amor da Índia" de Catherine Clément |
A noite caíra no ashram de Sabarmatí, onde vivia Gandhi com os seus discípulos. O rio junto da pequena falésia estava tão calmo que dir-se-ia seco como durante os terríveis calores de Junho; os animais furtivos que aí vinham matar a sede faziam estalar o mato. As mulheres, sentadas diante da cabana do Mahatma, esperavam, com o coração apertado. Gandhi fiava à luz de um candeeiro de petróleo, como de costume; a sua pouca bagagem estava pronta. Na véspera, pressentindo o que ia acontecer, tinha publicado no “Young India” um artigo em forma de anúncio público: “Vou ser preso”
O roncar do carro da polícia ouviu-se lá ao longe; Kasturba, a mulher de Gandhi, levantou a cabeça e puxou para o rosto a ponta do sari. Depois o barulho parou bruscamente, como se a polícia hesitasse. Um homem fardado apareceu na orla do recinto, um oficial da polícia que caminhava com um passo hirto, de cabeça baixa, o pingalim sob o braço.
Parou ao pé da casa; o Mahatma já se levantara e olhava-o, de pé.
- Senhor Gandhi? - perguntou, respeitosamente, o oficial.
- Mohandas Karamchand Gandhi, cultivador e tecelão - disse o Mahatma sorrindo. - Sou eu.
- Em nome de lord Reading, representante do rei-imperador nas Índias, devo anunciar-lhe que está sob prisão; quando estiver pronto, sir, queira apresentar-se - disse o oficial, que bateu os tacões e regressou logo à escuridão.
- Senhor oficial! - chamou Gandhi. - Não se vá embora. Eu acompanho-o
Os habitantes do ashram tinham-se agrupado em volta do Mahatma. Gandhi desceu os degraus e, unindo as mãos, convidou-os a cantar o seu hino preferido, composto para ele por um dos seus partidários. Vozes trémulas ou claras, velhas ou jovens, cristalinas ou roucas, todas se elevaram no escuro, tão tranquilamente que se poderia pensar que era uma festa; as cabras, despertas, puseram-se a balir em uníssono. Quando a oração terminou, Gandhi fechou os olhos, tomou o braço da mulher, agarrou no cajado e no saco e, num passo diligente, acercou-se do oficial, estupefacto.
- Quando quiser, sir - disse ele, cortês. - Não quero fazê-lo esperar; é tarde.
O oficial não lhe tocou; Gandhi caminhava a seu lado, e não se sabia qual dos dois levava o outro. Kasturba Gandhi trotava piedosamente atrás dos dois homens. Quando chegou à porta, o Mahatma voltou-se para os seus fiéis.
- Não se esqueçam! - gritou. - Ficarei profundamente magoado se o povo se insurgir em meu nome contra o Governo!
Eles acenaram com a mão sem responder, murmurando fervorosamente.
- A sua mulher pode acompanhá-lo, sir, até às portas da... - murmurou o oficial sem acabar a frase.
- Muito bem - cortou o Mahatma. - Fique o senhor sabendo que ela lamenta não ficar comigo lá no sítio para onde vamos. Não é verdade, Ba?
Kasturba Gandhi fez um gesto de assentimento com a cabeça sem responder.
- Sabe que vai para a prisão, sir? - disse o oficial quando já estavam dentro do carro.
- Não duvido - respondeu Gandhi com um grande sorriso. - No meu país é a primeira vez; mas na Africa do Sul tinha esse hábito.
- O seu processo começa dentro de uma semana. Tem um bom advogado? - perguntou o oficial.
- Não vou precisar - disse o Mahatma. - Eu próprio sou advogado; e o senhor não ignora que sou também um verdadeiro rebelde, hostil a qualquer compromisso.
- Arrisca-se a longos anos de cárcere - murmurou o oficial embaraçado.
- Quero o castigo mais severo - replicou o Mahatma, instalando-se bem no fundo do carro. - E declarar-me-ei culpado.
tradução de Maria do Rosário Mendes
o António Soares leu um excerto de "Este é o teu reino" de Abilio Estévez |
(..) Decido que hoje seja quinta-feira, finais de Outubro. Escureceu muito antes do crepúsculo, porque foi o primeiro dia de Outono (que não é Outono) da Ilha. Embora tenha amanhecido um bonito dia de Verão, pouco a pouco, sem que ninguém pudesse precatar-se, começou a levantar-se vento, e o céu viu-se coberto de nuvens escuras que adiantaram a noite. Chacho, que tinha chegado do Estado-Maior depois das quatro da tarde, foi o primeiro a dar-se conta da tempestade que se adivinhava, disse a Casta Diva que apanhasse a roupa do estendal,e saiu à galeria. A mulher viu-o depois, absolutamente imóvel, olhando talvez as copas das árvores. É verdade, pensou Casta Diva, o mundo vai acabar, e fechou as janelas porque o vento, além de forte, trazia areia e sujidade, e levantava remoinhos de folhas mortas. E ouviram-se os baques das janelas a fecharem-se. Irene, que saíra á plaza de Marianao pouco depois de almoço, encontrou ao regressar uma camada de terra sobre o soalho e os móveis, e alguns ramos de álamo incrustados nas grades da janela principal.(...)
tradução de Maria Bragança
a Adília brincou com um excerto de "Katrina´s sun-dial" de Henry van Dyke |
esperam que os para lento muito é tempo O
O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que têm medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
eterno é tempo o amam que os para Mas
Mas, para os que amam, o tempo é eterno.
a Anabela relaxou-nos com um excerto de "O Hobbit" de J. R. R. Tolkien |
a Cristina leu Jorge Luis Borges e Viviane Mosé |
São os rios
Somos o tempo. Somos a famosa
parábola de Heraclito, o Obscuro.
Somos a água, não diamante duro,
a que se perde, não a que repousa.
Somos o rio e somos esse grego
a olhar-se no rio. A sua imagem
muda na água do espelho entre as margens,
no vidro que varia, fogo cego.
Somos o rio vão, predestinado,
rumo ao seu mar. De sombra está cercado.
Tudo nos diz adeus, tudo nos deixa.
A memória não cunha moeda lesta.
E no entanto há algo que ainda resta
parábola de Heraclito, o Obscuro.
Somos a água, não diamante duro,
a que se perde, não a que repousa.
Somos o rio e somos esse grego
a olhar-se no rio. A sua imagem
muda na água do espelho entre as margens,
no vidro que varia, fogo cego.
Somos o rio vão, predestinado,
rumo ao seu mar. De sombra está cercado.
Tudo nos diz adeus, tudo nos deixa.
A memória não cunha moeda lesta.
E no entanto há algo que ainda resta
Jorge Luis Borges de "Os conjurados"
tradução de Fernando Pinto do Amaral
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)
acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim
e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás
um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos
acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando
Viviane Mosé de "Pensamento Chão, poemas em prosa e verso"
e ainda a versão da autora
e como não podia deixar de ser, acabámos a comer bolos
TAc-tic-tac-tic - Aprendemos mais algumas coisas e passámos mais um Tempo... (bem passado! com as Leituras a continuarem em Alta e onde, de facto, os bolos - mesmo feitos pelo Robot (não vale publicidade) - não estiveram ausentes. Venha o próximo! (Queria dizer CLEVA...)
ResponderEliminarSaiu Unknown... era A Gil
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