a Cíntia falou-nos de David Lodge |
a Ana Maria e o António leram-nos um excerto de "A poesia da alma alentejana" de Joana da Consolação Correia |
Oh! terra ardente
Charneca em flor
Feita dum sonho
Sonho de amor!
João Camilo
O Alentejo
Não é a savana das planícies áridas e incultas.
Não é a charneca bravia dos matagais: das estevas, das giestas, dos tojais, das urzes e das piorneiras.
É a terra de entranhas fecundas do trigo loiro; dos olivedos tristes mas viçosos, de azeitonas luzidias, do óleo puro amarelo-
doirado; dos montados de frutos coroados de carapulos; dos vinhedos estendidos à vontade às chapadas do sol que geram as castas de uvas soberbas como estirpes; dos pomares e hortas, vergéis escondidos em vales que são paraísos pitorescos onde correm ribeiros e arroios orlados de toda a espécie de mimosa vegetação; viçosa verdura e arbustos, virentes eucaliptos; os verdes choupos e salgueiros e as gigantes faias.
Traduções
piorneiras = moita de piorno
carapulos = cálice das bolotas
Joana da Consolação Correia
de "A poesia da Alma Alentejana" - 1956 – Edição de Autor
a Rosa, o António e a Mariana leram |
Bati à porta do monte
porque sou um deserdado.
E chovia nessa noite
como se o céu fosse um mar
entornando-se na terra.
Quem abre a porta a desoras
morando num descampado?
E continua o rafeiro que ladrava,
na ponta do meu cajado.
Mas veio abri-la o lavrador
com a espingarda na mão,
e pôs um olhar altivo
tão fundo dos meus olhos
que as minha primeiras falas
foram assim naturais:
guarde a espingarda, senhor,
sou um homem sem trabalho.
Fui secar-me à lareira.
E a filha do lavrador,
que era uma moça perfeita,
ficou a olhar de gosto
a minha manta rasgada
e o meu fato de maltês.
E com licença do pai,
estendeu-me um canto de pão
com azeitonas maduras.
Não aceitei como esmola;
antes roubar que pedir:
paguei com a melhor história
da minha vida sem rumo.
Foi uma paga de rei.
Prà filha do lavrador,
tinha muito mais valia
a história que lhe contei
que o trigo do seu celeiro,
pois estava a olhar de gosto
a minha manta rasgada.
E quando o fogo na lareira
ia aos poucos esmorecendo
agradeci como é de uso;
despedi-me até mais ver
e fui dormir pró palheiro
que é palácio de maltês.
Despedi-me até mais ver que a gente da minha raça
mal o Sol tenta nascer
ergue-se e parte pelo mundo
sem se lembrar de ninguém.
Assim me deitei ao canto
a esperar pela manhã.
Manuel da Fonseca
a Antónia leu "Verão" de Manuel Conde e "É tão grande o Alentejo" Popular |
Aqui uma versão de "Verão" por António Zambujo
e aqui uma versão de "É tão grande o Alentejo" por Dulce Pontes e Os Ganhões de Castro Verde
a Eugénia leu um excerto de "Levantado do chão" de José Saramago e um excerto de "Cerromaior" de Manuel da Fonseca |
a Cristina, a Graciete, a Helena e a Fernanda leram: |
e
a Alexandra leu |
Catarina Eufémia
O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente
Pois não
deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método ubíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos
Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro
no instante em que morreste
E a busca da justiça continua
Sophia de Mello Breyner Andresen
a Vitória leu |
Romance do terceiro oficial de finanças
Ah! as coisas incríveis que eu te contava
assim misturadas com luas e estrelas
e a voz vagarosa como o andar da noite!
As coisas incríveis que eu te contava
e me deixavam hirto de surpresa
na solidão da vila quieta!...
Que eu vinha alta noite
como quem vem de longe
e sabe o segredo dos grandes silêncios
- os meus braços no jeito de pedir
e os meus olhos pedindo
o corpo que tu mal debruçavas da varanda!...
(As coisas incríveis eu só as contava
depois de as ouvir do teu corpo, da noite
e da estrela, por cima dos teus cabelos.
Aquela estrela que parecia de propósito para enfeitar os teus cabelos
quando eu ia namorar-te...)
Mas tudo isso, que era tudo para nós,
não era nada da vida!...
Da vida é isto que a vida faz.
Ah! sim, isto que a vida faz!...
- isto de tu seres a esposa séria e triste
de um terceiro oficial de finanças da Câmara Municipal!...
Manuel da Fonseca
a Marília leu um excerto de "Nenhum olhar" de José Luís Peixoto |
a Helena leu a Lenda da Moura de Salúquia |
a Adília, a Anabela, a Cíntia e o António conseguiram uma extraordinária parceria do CLeVA com os vinhos da Herdade do Esporão |
a Cristina e o Fernando trouxeram a Mariana, uma convidada especial, para os acompanhar no poema "Aldeia" de Manuel da Fonseca de mistura com Uma gotinha d'água |
Aldeia
Nove casas,
duas ruas,
ao meio das ruas
um largo,
ao meio do largo
um poço de água fria.
Tudo isto tão parado
e o céu tão baixo
que quando alguém grita para longe
um nome familiar
se assustam pombos bravos
e acordam ecos no descampado.
Manuel da Fonseca
está quase a começar um novo clube de leitura em voz alta, desta vez na Biblioteca de Tábua. Nós fizemos uma brincadeira com "Um Carnaval" de Alexandre O'Neill para lhes oferecer |
desta vez o aniversariante foi o António Gil |
como se precisássemos de algum pretexto para terminar a sessão a comer e a beber |
Sem comentários:
Enviar um comentário