O antigo Clube de Leitura em Voz Alta deu lugar ao Coro de Leitura em Voz Alta. Tem normalmente um periodicidade quinzenal e acontece na Biblioteca de Alcochete.

Os objectivos continuam a ser os mesmos; promover o prazer da leitura partilhada; a forma passou a ser outra.

14 de Dezembro - Coragem



Tic... Tac... Tic... Tac... Desta vez a inexorável ampulheta marcava os 3 minutos... será que conseguimos cumprir?

[ Já notaram que já não tem sido preciso dizer "coragem..."? ]


A Cristina entrelaçou Camões e Pessoa... a dobrar o cabo das tormentas:

Não acabava, quando uma figura

Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.

Tão grande era de membros, que bem posso

Certificar-te que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo.
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo,

O mostrengo que está no fim do mar

Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou trez vezes,
Voou trez vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»

E o homem do leme disse, tremendo:
«El-rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
Trez vezes rodou immundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»

E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-rei D. João Segundo!»

Trez vezes do leme as mãos ergueu,
Trez vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer trez vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quere o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
D' El-rei D. João Segundo!»
O Fernando trouxe-nos D. Quixote, o cavaleiro andante (... olha... andante!) e seu escudeiro Sancho Pança. Leu um excerto do capítulo VIII (a famosa luta contra os moinhos de vento). O eBook está aqui para quem o quiser, embora a versão seja um nadinha diferente.

A Lena R. pegou nas "Histórias de Mulheres" da Rosa Montero e leu dois bocadinhos. Para quem quiser explorar um pouco mais o livro, o capítulo da Agatha Christie pode consultar-se online. São 15 histórias mulheres que ousaram... mas ficam avisados que os finais não são sempre felizes!

A Paula emocionou-nos com a "Paula" de Isabel Allende. Aqui um comentário sobre o livro.

O Daniel trouxe uma página do "Diário de Anne Frank" (sabes, Daniel, ela era só um bocadinho mais crescida que tu!)

A Isabel foi buscar António Aleixo

Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura!


Ser doido-alegre, que maior ventura!
Morrer vivendo p'ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade!

Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola, a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.

Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório um paraíso...
Direi, ao contemplar o seu sorriso,

Ai quem me dera ser doido também
P'ra suportar melhor quem tem juízo. 
O João leu-nos o final de "O Fim da Pobreza" de Jeffrey Sachs. Aqui uma sinopse e links para explorar um pouco mais.

A Virgínia leu dois excertos de Brecht

Há homens que lutam um dia, e são bons;

Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis
e... das 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas' (Tradução de Paulo Quintela)

Aprende o mais simples! Pra aqueles

Cujo tempo chegou
Nunca é tarde de mais!
Aprende o abc, não chega, mas
Aprende-o! E não te enfades!
Começa! Tens de saber tudo!
Tens de tomar a chefia!

Aprende, homem do asilo!
Aprende, homem na prisão!
Aprende, mulher na cozinha!
Aprende, sexagenária!
Tens de tomar a chefia!

Frequenta a escola, homem sem casa!
Arranja saber, homem com frio!
Faminto, pega no livro: é uma arma.
Tens de tomar a chefia.

Não te acanhes de perguntar, companheiro!
Não deixes que te metam patranhas na cabeça:
Vê c'os teus próprios olhos!
O que tu mesmo não sabes
Não o sabes.

Verifica a conta:
És tu que a pagas.
Põe o dedo em cada parcela,
Pergunta: Como aparece isto aqui?
Tens de tomar a chefia.
O Paulo que trouxe "Circunavegação" de Miguel Torga

O Augusto apresentou o discurso do "Dia do Trabalhador" proferido por Eva Perón

O António leu excertos do "Ultimatum" de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa (aqui dito por Maria Bethania)

A Helena Leu dois poemas do "Cântico do Homem" de Miguel Torga: "Luta" e

"Engrenagem"
O dia nasce limpo e luminoso,
Mas não te iludas, homem!
A natureza já não é contigo.
Daqui a nada toca no quartel,
Apita a fábrica de meias,
Abre a mercearia,
E só então tu poderás saber
Se poderás viver,
E se chove,
E se neva,
E se o adeus da tua Eva
Te comove.
A Mariana leu "Inconfesso Desejo" de Carlos Drummond de Andrade

Queria ter coragem

Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo

A Cecília citou Mark Twain

Coragem não é a ausência do medo... é enfrentar o medo!

A Ana Rita leu um trecho de "O Homem" de Sophia de Mello Breyner (um dos "Contos Exemplares")

A Alexandra terminou com o princípio de "João Sem Medo"

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